
Amarello 52 — Satisfação
Em sua edição 52, a revista Amarello une moda e sociologia ao trazer Verena Figueiredo na capa e Carlos Dória, especialista em alimentação brasileira, como editor convidado. Afinal, o que nos satisfaz?
A compulsão sempre pautou a minha vida. Por ter sido um adolescente com sobrepeso, me foi imposta uma restrição alimentar que atrapalhou a minha relação com a comida e com o mundo. O buraco negro existencial do ser humano, se não enfrentado, é “tapado” com comida, cigarro, álcool, euforia, sexo, esporte, trabalho e, atualmente, sobretudo, tela. Isso, a gente sabe, não dá certo. Não é de hoje que sinto um desconforto enorme em relação à vida moderna e a essa hipnose de telas que estamos vivendo.
A tecnologia que prometeu mais tempo para vivermos nossas vidas nos deu, na verdade, mais tempo para ficar olhando telas, entulhando nossos cérebros. Estamos capturados por informação e dopamina, sem qualquer tolerância. Em um mundo pautado por algoritmos, a ignorância é a lei. Perdemos nossa autonomia e dignidade.
Olhem ao nosso redor. As novas gerações não estão fazendo sexo. Não estamos movimentando nossos corpos nem nos alimentando com prazer. A comida é o nosso elo com o mundo e a natureza. Comer por comer rompe esse laço sagrado. O prazer é um direito do ser humano, e ele parece distante de nós.
Estamos morrendo de desespero, em um looping infinito de insatisfação. A inteligência artificial está ameaçando substituir artistas e escritores, os adivinhos da cultura. Os níveis básicos de gentileza e saúde mental estão se desintegrando a um ritmo alarmante. Estamos em um relacionamento com nossos celulares. Apaixonados.
O que será do tempo e do espaço que a inteligência artificial vai nos liberar?
Precisamos mesmo trabalhar mais, ser mais produtivos, ter melhores posições no mercado de trabalho, ter mais influência, prestígio, seguidores, likes? Esse estigma da insuficiência é uma fábrica de sofrimento.
As pessoas estão desaparecendo sob a mão do mundo digital, e eu não acho justo viver às sombras de que se conheça o sol da própria vida.
Você já parou pra pensar no que, verdadeiramente, te satisfaz?
Tomás Biagi Carvalho