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Sonhar em partir, sonhar em voltar, de Ana Paula Sirino
#53MitosArtes Visuais

O mercado de arte como espaço de luxo e desafios à diversidade

por Carla Oliveira

O mercado de arte é, antes de tudo, um mercado de luxo. E, como tal, está sujeito às tendências que vão e vêm, muitas vezes moldadas por pautas, em sua maioria, políticas e mercadológicas. 

Apesar de não integrar uma cadeia produtiva tradicional, o setor artístico convive com um limite intrínseco: o monopólio de quem o comanda. Ele impulsiona inovações e expressões criativas, mas permanece condicionado por estruturas econômicas que nem sempre acompanham o ritmo desse avanço. 

Nos últimos anos, algo mudou: artistas jovens passaram a ter mais acesso aos recursos gerados por seus trabalhos, rompendo, ainda que parcialmente, com a lógica de que, para viver de arte, é preciso nascer rico. Ainda assim, a estrutura continua reproduzindo desigualdades históricas. 

Gente, de Diego Mour
São Paulo, 93 / as pequenas chances, de Manuela Navas

Ao pensar no mercado de arte, percebo um sistema de relações profundamente colonialista e exploratório. Há certo “teatro” nas posições de comando e nos processos de escolha, como no caso de curadores, em que cadeiras temporariamente ocupadas por pessoas de grupos minorizados permanecem frágeis e são constantemente questionadas. 

O episódio recente envolvendo o curador Hélio Menezes, afastado do Museu Afro Brasil, em São Paulo, ilustra bem essa instabilidade. Segundo o ex-conselheiro da instituição, Wellinton Souza, Menezes teria atuado por mais de um ano como diretor artístico sem contrato assinado ou vínculo empregatício formalizado, recebendo um salário abaixo do valor de mercado. Em carta aberta publicada nas redes sociais, Hélio afirmou que a chefia do museu tinha “perfis alheios à diversidade e ao protagonismo negro”. 

O ponto de partida, aqui, é a questão da acessibilidade. Para jovens artistas, o maior desafio não é apenas entrar em uma galeria ou ver sua obra em um acervo, mas percorrer um longo caminho até lá. Trata-se de construir um posicionamento: saber quanto cobrar, calcular o valor inicial de suas obras de modo a projetar a carreira e não sufocá-la, negociar parcerias, chegar a colecionadores e curadores. Muitas dessas informações, básicas para qualquer inserção no mercado, são tratadas como segredo. Assim, o primeiro obstáculo pode ser o mais elementar: aprender a vender o próprio trabalho de forma rentável. 

Poleca, de Diego Mouro
Alguém vai para a panela!, de Ana Paula Sirino

Não se pode falar dessas barreiras sem mencionar como o mercado controla narrativas, histórias e acessos. Até mesmo o contato com obras é restrito: museus concentram-se, em geral, nas regiões centrais e de maior poder aquisitivo, distantes da maior parte da população. 

Nos últimos cinco anos, a presença de artistas jovens de grupos minorizados tornou-se um tema recorrente no mercado de arte brasileiro. O fetiche dos colecionadores pela descoberta de um possível novo nome mainstream gera “apostas” feitas a preços baixos, que impulsionam ascensões momentâneas até o próximo grande lançamento. 

Revoada de chupim, de Manuela Navas
Prelúdio, de Manuela Navas

Essa entrada de vozes revela um paradoxo: ao mesmo tempo em que traz experiências e vivências ausentes das narrativas hegemônicas, desperta no mercado um interesse marcado por fetiches e romantizações. Afinal, existe uma demanda velada para que esses artistas retratem violência, pobreza e sofrimento, como se sua produção estivesse limitada a ilustrar estereótipos dentro da arte contemporânea. 

Para artistas cuja obra incorpora pautas políticas ou identitárias, o maior desafio pode ser justamente não se ver reduzido a isso. É frequente que só sejam lembrados em datas como o Dia da Consciência Negra ou em exposições temáticas sobre negritude, feminismo, questões indígenas, LGBTQIAPN+ ou de gênero, quando deveriam ocupar espaços expositivos de maneira natural, ao lado de outras produções. O relato de bastidores confirma: pedidos como “você pode pintar a coisa do gay?” ou “faça de uma forma abstrata, porque está na moda”, em uma tradução simplista, são comuns, mesmo quando destoam da linguagem do artista. Quando a identidade vira produto, o criador se vê pressionado a reproduzir apenas o que o mercado espera dele. 

Enquanto instituições tratarem identidade apenas como tema ou produto, reforçando a literalidade e sufocando o subjetivo, pouco mudará. A especulação também se alimenta da relação entre galerias comerciais e instituições: colecionadores influentes e conselheiros dos museus legitimam artistas de seu interesse, confundindo validação institucional com benefício privado. Assim, espaços que poderiam democratizar o acesso acabam atuando como engrenagens de um circuito especulativo. 

Na sombra de folhas invisíveis, de Ana Paula Sirino
Lavadeiras, de Diego Mouro

Nesse cenário, questões identitárias importantes têm sido, muitas vezes, incorporadas como tendência de mercado. O que antes era pauta de denúncia passa a ser usado como elemento decorativo, e o que deveria provocar reflexão se torna parte de ações superficiais. A representatividade, esvaziada de sua força transformadora, é tratada como recurso de imagem. Corpos antes invisibilizados passam a ser exibidos, desde que atendam a padrões e expectativas que mantenham o conforto e a estética institucional. 

O mercado poderia avançar ao criar relações mais transparentes com artistas, investir no desenvolvimento de carreiras a longo prazo e garantir que pautas identitárias não sejam tratadas como modismo ou capital simbólico, mas como parte efetiva de sua estrutura. Isso exige contratos claros, divisão justa de lucros e esforço consistente para ampliar a diversidade de vozes de forma contínua, e não oportunista. 

É necessária uma mudança estrutural que reconheça a rentabilidade em manter esses artistas no mercado. Quando colecionadores, artistas, museus, curadores e galeristas atuam em sintonia, o mercado se capitaliza de forma mais consistente. Quanto mais se investe na permanência de um artista, em vez de descartá-lo rapidamente, maior é o incentivo para manter um ciclo de compra que sustenta toda a cadeia produtiva. 

Talvez a saída esteja no caminho oposto ao da especulação: ampliar a massa crítica, democratizar o acesso e inserir a arte no cotidiano, nas escolas, nos espaços públicos. Não se trata de “popularizar” no sentido de simplificar ou esvaziar, mas de devolver à arte seu poder simbólico para quem foi historicamente afastado dela. 

O problema não se restringe ao mercado de arte, ele apenas reflete um déficit socioeducacional profundo. Enquanto a arte permanecer restrita à condição de objeto ornamental e distante, enquanto não cultivarmos cidadãos capazes de interpretá-la, questioná-la e se enxergar nela, ela continuará sendo capturada por interesses que a distorcem, transformando-a no que jamais deveria ser: um símbolo de luxo voltado a quem já tem tudo. 


*** 

Gostaria de deixar um agradecimento especial para todos os colecionadores e artistas que colaboraram com seus depoimentos para este texto. 

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