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Imagens: reprodução Pinacoteca de São Paulo.
Artes Visuais

“Tens a vontade e ela é livre”: O Brasil de Flávio Império

por Revista Amarello
Exposição na Pinacoteca apresenta um artista múltiplo, que transitou entre teatro, pintura e design gráfico.

A exposição Tens a vontade e ela é livre, em cartaz no quarto andar da Pina Estação, se abre como passagem — uma travessia entre tempos, linguagens e corpos de um país em constante transformação. Revisitar a obra de Flávio Império (1935–1985) é reavivar a potência de um artista múltiplo — pintor, arquiteto, cenógrafo, designer, agitador cultural — e, diante de seu legado, reconhecer a urgência de uma reflexão sobre o país: o que fizemos da liberdade e como reinventá-la em tempos de vigilância e controle?

Flávio Império foi uma das figuras mais inventivas da cultura brasileira do século XX. Formado em arquitetura pela FAU-USP, transitou com naturalidade entre o teatro, a pintura, o design gráfico e a cenografia, sempre guiado por uma inquietação ética e estética que fazia da arte um gesto político. Filho de imigrantes italianos do bairro do Bixiga, carregava em sua obra o olhar atento ao cotidiano e às expressões populares, sem jamais dissociá-las das grandes questões de seu tempo. Império foi, antes de tudo, um articulador de mundos — entre o erudito e o popular, o individual e o coletivo, o palco e a rua — e sua trajetória, embora interrompida precocemente, permanece como um projeto de liberdade em movimento.

Flávio Império nos anos 1980. Reprodução.

Com curadoria de Yuri Quevedo, que há mais de uma década investiga o acervo e os rastros deixados por Império, a exposição em sua homenagem reúne quase 300 obras produzidas entre os anos 1960 e 1985. É uma retrospectiva, aliás, que acontece em um sentido mais amplo, pois, para além das obras, ela evoca a energia de um tempo em que a arte não era apenas expressão, mas necessidade — um modo de existir, resistir e comunicar o indizível. O título, tomado de um verso de Brecht, é também um manifesto: haverá sempre vontade, e é preciso garantir que a liberdade a acompanhe.

 A exposição se desdobra em três núcleos que funcionam a) como etapas cronológicas e b) como estados de espírito. O primeiro, tomado por pinturas e colagens dos anos 1960, mostra o artista em confronto direto com o cotidiano sob a ditadura militar. As figuras populares, os anúncios de jornal, os rostos das ruas e os slogans da propaganda aparecem em composições que misturam ironia e crítica, como se o país se refletisse em um espelho rachado. 

No segundo núcleo, intitulado Aspectos do inconsciente coletivo na comunicação de massas, o tom muda: é o Brasil interior que emerge, o das festas de São João, dos símbolos de fé, das máscaras e dos orixás. Império mergulha na cultura popular sem exotismo, deixando o folclore de lado para focar na essência de pessoas que exalam potência. 

 A terceira parte, Mãos e mangarás, aborda o final dos anos 1970 e início dos 1980, quando Flávio viaja pelo interior do Brasil e volta com novos materiais, novas cores e novas formas de olhar o trabalho manual. É um momento de síntese e liberdade, em que o artista se interessa pela repetição dos gestos, pelos símbolos da natureza e pela convivência de técnicas populares e experimentais. Aqui, a vontade de criar parece já desprendida de fronteiras disciplinares. Pintura, gravura e objeto se confundem em um mesmo impulso vital.

Tudo na exposição sugere movimento. Não há um sentimento, bom ou ruim, que parece indelével, pois o próximo sempre vem. As obras, dispostas em ritmo quase teatral, dialogam entre si, atestando para uma coerência rara de um artista que nunca se deixou aprisionar por estilos ou por rótulos. Sua prática, múltipla e inquieta, é a de quem entende a arte como espaço de encontro e transformação, praticamente uma arquitetura da experiência.

 Flávio Império morreu em 1985, aos 50 anos, um dos primeiros artistas brasileiros a ter o nome associado publicamente ao HIV. Temos aqui uma reabertura de caminhos que é muito bem-vinda, pois Império continua a ecoar, nas formas e nas ideias, como quem insiste em lembrar que a arte é um exercício de liberdade — e, portanto, de risco.

As maquetes de cenários, os estudos de capa para Doces Bárbaros, as serigrafias de cores abertas, as colagens que reúnem fragmentos de jornal e de vida, tudo parece falar de um país que se constrói a partir de ruínas, improvisos e desejos. Na realidade cada vez mais fragmentada em que vivemos, tudo na exposição soa atual, e, diante de um mundo que volta a se dividir em compartimentos e especializações, fica a mensagem: a liberdade só existe na mistura, seja ela de técnicas, de vozes ou de olhares.

Flávio Império vive. E vive também a ideia de que o movimento que tira da escuridão é possível e que a arte, quando quer e quando pode, ainda é capaz de amanhecer o país.


Local: edifício Pina Estação  (4º andar)
Data: de 28 de junho até 1 de fevereiro de 2026
Endereço: Largo General Osório, 66, Santa Efigênia, São Paulo — SP
Horário de funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 18h.

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