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#54EncantoCultura

Benedito Ruy Barbosa é raiz

por Isabel de Castro

Cena da novela Velho Chico.

Benê para os íntimos e Ruy em outros círculos, aprendeu a ler sozinho montando os tipos de texto no jornal de seu pai, em Vera Cruz (SP). Nascido em 1931 na pequena cidade de Gália,  em São Paulo, conta que se recorda de uma infância feliz, interrompida subitamente pela viuvez de sua mãe, o que obrigou o menino a trabalhar desde os 13 anos, como filho mais velho da família. Aos 17 anos, partiu para São Paulo, onde sentiu pela primeira vez o prazer em contar histórias, fazendo com que abandonasse o jornalismo e enveredasse pela trilha de editor de script da Colgate-Palmolive, uma das empresas patrocinadoras da TV Tupi. Nesse contexto, conheceu Glória Magadan, que lhe deu a oportunidade de escrever a telenovela Somos todos irmãos (1966), uma adaptação do romance A vingança do judeu, de Conde de Rochester. Assim se inicia uma de suas marcas de criação, a adaptação de muitos textos literários para o meio audiovisual — não apenas clássicos, mas também alguns desconhecidos do grande público —, como foram os casos de O décimo mandamento (1968), baseada no texto original de José S. Arcilla, O morro dos ventos uivantes, no de Émile Brönte, O tempo e o vento (1967), no de Érico Veríssimo, e O feijão e o sonho (1976), de Orígenes Lessa.  

Talvez, de todos os seus trabalhos, o mais conhecido tenha sido o Sítio do Pica-pau Amarelo, transmitido de 1977 a 1986. O seriado de 12 temporadas o fez rememorar a infância, quando lia os livros de Monteiro Lobato, que havia ganhado de seu pai. Os roteiros foram divididos com Marcos Rey e Silvan Paezzo, entre outros. Um trabalho de peso, que teve seu reconhecimento pela Unesco como o melhor programa infantojuvenil em 1979! 

A sua produção original foi outro tipo de aventura. Quando conheceu Oduvaldo Vianna Filho, que dirigia o Teatro de Arena, este o convidou para escrever uma peça sobre futebol, e então Barbosa apresentou Fogo frio (1959). A peça ficou em cartaz por um ano e ganhou o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). A partir daí, foram produzidas outras novelas suas: O anjo e o vagabundo (1966), Meu filho, minha vida (1967), e Simplesmente Maria (1970), ainda na TV Tupi; na Record, foram produzidas A última testemunha (1968) e Algemas de ouro (1969). Vale lembrar o cenário televisual das décadas de 1960 e 1970, em que as emissoras buscavam telespectadores fiéis, então mudanças nas grades de programação foram necessárias: antes eram privilegiadas adaptações de romances clássicos, mas então se passou a ter temas nacionais que agregassem ao público. Benedito Ruy Barbosa era, nesse contexto, o homem certo, com a sua visão do meio rural, da vida simples e da natureza no entorno. 

A TV Globo transmitiu, em 1971,  Meu pedacinho de chão, de Barbosa, com a colaboração de Teixeira Filho. A novela era educativa, e instituiu o horário das 18h na grade de programação, sendo exibida em quatro horários diários e em duas emissoras: na TV Globo e na TV Cultura. A ideia surgiu do convite de Laudo Natel para ser o assessor especial na presidência da televisão governamental. Junto à novela, foi implantado o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), que chamava os adultos à sala de aula. A temática da obra discutia a desigualdade de classes no campo, e as ações nela mostradas serviam ao conhecimento, pois informavam como aproveitar melhor a terra, tratar verminoses e até ter melhores condições de higiene, tudo muito útil ao ambiente rural. Ela foi um sucesso, apesar da ditadura e da censura instaladas.  

Barbosa também escreveu Os imigrantes (1981), esta para a TV Bandeirantes. Um trabalho monumental e muito bem sucedido, que arrebatou vários prêmios da crítica especializada. O programa foi dividido em quatro fases, que retratavam a imigração no Brasil, do final do século XIX até a década de 1950. Neste ponto da atuação de Barbosa, vemos que ele se preocupava com as questões antropológicas, educativas e históricas que propunha em suas tramas, e tinha consciência da enorme responsabilidade e do poder de um meio de comunicação como a televisão. Ele também confiava no valor de sua autoria, ao ter a recusada Amor pantaneiro pela Globo — ele então a oferece à TV Manchete, que realizou a novela com o título Pantanal (1990) e com um elenco global, como Cláudio Marzo, Cássia Kiss e Nathália Timberg, junto a revelações como Cristiana Oliveira e Marcos Winter. O enredo girava em torno de Zé Leôncio e seu pai, Joventino, caçadores de marruás (bois selvagens), que se estabeleceram na região, onde compraram uma fazenda para a criação de gado de corte. A trama se desenvolvia pela terceira geração, em que Barbosa narrava a vida dos peões de comitiva, das relações das famílias pantaneiras e citadinas, de vinganças entre os posseiros que usurpavam a terra pública, dando-lhe a aparência de particular (processo chamado grilagem), e entre suas vítimas. O autor não deixou de lado o mito pantaneiro do Velho do Rio e da mulher-onça, e tratou também da violência doméstica a partir da personagem Maria Bruaca, que era humilhada por seu marido. Dos sete pontos de média iniciais de audiência na Grande São Paulo, na quarta semana, a novela passou a superar a TV Globo quase todos os dias. O que vimos foi uma preferência do público por narrativas ligadas às suas vidas, mostrando fazeres e mitos, além de muitas reviravoltas, vinganças, crimes, deslizes e, claro, romance. Barbosa soube encantar e maravilhar o público com suas narrativas fora do ambiente urbano, sempre voltado para a vida no campo em disputa com este urbano. 

Cena da novela Pantanal.

No retorno à Globo, o autor lançou Renascer (1993), que se passava em locações na região cacaueira de Ilhéus, na Bahia. A obra atou a parceria com o diretor Luiz Fernando Carvalho, que sabia traduzir em imagens o que Barbosa sentia. A história narrava a vida de José Inocêncio e sua relação com filhos, rivais e mulheres. Nela se nota bem a onipresença de Barbosa, que praticamente deixava sua marca na televisão todo ano, inovando o gênero saga para narrar um romance na vida na fazenda. 

O autor é, aliás, consolidado como um autor rural, apresentando vasto conhecimento da vida do interior do Brasil, e isso lhe rendeu frutos, como ser contemplado para realizar O rei do gado (1996), cuja criação ele dividiu com Edmara e Edilene, suas filhas, tendo o parceiro Luiz Fernando Carvalho como diretor, que contribuiu com toques artísticos do cinema. O enredo era a desavença entre as famílias Mezenga e Berdinazzi, e perpassava gerações no sul de Minas Gerais. Bruno Mezenga é o “rei do gado” que rivalizava com Geremias Berdinazzi. Ambos criavam bovinos e plantavam café e cana. Barbosa defendeu a reforma agrária e mostrou como era a vida nos acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), coisa que contribuiu muito para o esclarecimento da população. Suas histórias eram verdadeiras e encantadoras, porque foram vividas na sua experiência passada em fazendas do interior de São Paulo e do Paraná. Ele próprio dizia que “é preciso abrir o olho para a realidade do país. Uma novela não pode ser alienante, deve informar o público, ser algo útil à sociedade”.  

Em 1999, ele retomou o tema da imigração e criou Terra nostra, novamente com a colaboração de suas filhas. Aqui, a imigração italiana foi tratada pelo recorte da virada do século XIX para o século XX, e a trama se passava nas fazendas de café do interior de São Paulo. Esse foi outro sucesso da narrativa de Barbosa, que traçou um painel do estado de São Paulo, em cujo processo de industrialização e formação do movimento operário os imigrantes tiveram participação ativa. O autor nos mostrou, assim, o seu amor pela formação do povo brasileiro.  

Houve muitos remakes de suas obras, tais como Cabocla (2004), Sinhá Moça (2006), Paraíso (2009) e, o mais significativo em termos criativos, Meu pedacinho de chão (2014), em que  contou novamente com a parceria iluminada de Luiz Fernando Carvalho. Mais que uma repetição, este remake foi uma fábula artesanalmente representada e gravada na memória do público! Seus personagens foram criados com ternura para adultos, e o resultado é uma bela obra de trabalho conjunto, que revelou ao público o encantamento da fantasia. Não podemos esquecer também o remake da minissérie Mad Maria (2005), inspirada no romance de Márcio de Souza, ambientada em 1911, na Amazônia, durante a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, uma reconstituição primorosa da vida dos operários e senhores da ferrovia. 

Em 2016, foi produzida a telenovela Velho Chico, criada por Barbosa e escrita por Edmara e Bruno Luperi, também com direção de Carvalho. A história foi ambientada às margens do rio São Francisco, na Bahia. Para Patrícia Kogut, a novela é um “folhetim clássico, mas com muita renovação”, ao que Maria Rita Kehl acrescenta: “Ninguém tem olhos azuis. O Brasil de Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando Carvalho é agreste. É pobre, remediado, devastado e esperançoso”.  

Para finalizar a homenagem a esse autor de primeira linha, um mago, que nos proporcionou tanto encantamento com narrativas construídas no universo rural, só podemos agradecer de coração. Sim, Benedito Ruy Barbosa é raiz! 

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