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Palácio Borromeo, em Isola Bella, no Piemonte.
#54EncantoCulturaDesign

Encanto e prestígio dos jardins italianos

por Silvana Maria Rosso
Expressão de beleza, cultura e domínio desde a Antiguidade, a arte da jardinagem tem o poder de despertar emoções e sentidos.

“Maravilha, memória, nostalgia, estranhamento e comunhão com outros seres vivos são sentimentos que um jardim pode evocar”, observa Sara Protasoni, professora de Arquitetura da Paisagem do Politécnico de Milão. Desde o Jardim do Éden, símbolo da harmonia entre o homem e a natureza, os jardins carregam a promessa de perfeição e encantamento, despertando os nossos sentidos – visão, olfato, tato e audição. Consagração da capacidade humana de criar beleza e testemunho da relação entre arte, fé e autoridade, o jardim italiano nos convida, ainda hoje, a experimentar diferentes sensações.  

Canopus, na Vila Adriana, em Tivoli. Foto Stefano Calistri/Pixabay.

Das origens à harmonia renascentista 

Surgido com a sedentarização humana como espaço de proteção e cultivo, com o tempo, o jardim evoluiu, tornando-se um local espiritual, artístico e de expressão de poder, cultura e domínio sobre a natureza. Já na Antiguidade, Roma se destacava por seus jardins imperiais, como os da Vila Adriana, em Tivoli, erguida pelo imperador Adriano no século II d.C. Inspirada em suas viagens e nas arquiteturas do Império, a vila é um complexo de 40 hectares, hoje ruínas, que une arte, natureza e técnica.  

Construída num planalto dos montes Tiburtinos, aproveitava recursos de pedra e água, essenciais para fontes, lagos e termas. Reunia palácios, teatros e jardins que expressavam o esplendor e a autoridade de Roma. A disposição das construções, adaptada ao relevo, revela equilíbrio entre funcionalidade e beleza. Entre seus principais conjuntos estão o terraço da Academia, o vale do Canopo, o complexo Pintado e o complexo Nordeste, com o Teatro Marítimo e o Palácio Imperial — símbolos do gênio criador e cosmopolita de Adriano.  

“Durante a Idade Média, o saber dos jardins sobreviveu nos conventos e mosteiros, onde os claustros constituíam um elemento fundamental da estrutura arquitetônica”, afirma o paisagista e historiador Filippo Pizzoni. Comuns nos ambientes religiosos, entre os séculos XII e XIV, surgiram os hortus conclusus — jardins murados dedicados ao cultivo de ervas e flores, verdadeiros microcosmos espirituais que antecipavam a síntese renascentista entre razão, natureza e fé. 
Com o Renascimento, “o jardim italiano tornou-se modelo para toda a Europa”, assinala Pizzoni. Buscando harmonia entre geometria e paisagem, refletia o espírito humanista e o desejo de ordem universal, consolidando-se como instrumento de ostentação nobre.  

“Criar jardins exuberantes e inovadores era uma forma de demonstrar poder, cultura e sofisticação”, explica Protasoni. As famílias nobres competiam em exuberância vegetal, simetria e monumentalidade, transformando seus domínios em teatros de prestígio, onde o luxo e o gosto revelavam hierarquia e autoridade. Também os Estados Papais seguiram essa tendência, investindo em parques e jardins como afirmação política e espiritual. 

Os Medici: poder e cultura na paisagem 

Poderosa dinastia de banqueiros, a família Medici governou Florença entre 1434 e 1737, conduzindo a transição da república ao principado e moldando profundamente a cultura do Renascimento. Figuras como Cosimo, o Velho, e Lourenço, o Magnífico, usaram o mecenato como instrumento de poder e prestígio, apoiando artistas como Michelangelo e Botticelli e promovendo o Humanismo e a redescoberta dos clássicos. 

As Vilas Mediceias, trinta e seis espalhadas pela Toscana, foram centros de experimentação artística e científica. Quatorze delas integram, desde 2013, a lista do Patrimônio Mundial da Unesco. Entre as mais emblemáticas está a Vila Medici em Fiesole (1451–1457), construída para Giovanni, filho de Cosimo, o Velho, e descrita por Giorgio Galletti, professor da Universidade de Florença, como “a primeira vila com jardim renascentista”. Rompendo com o modelo fortificado medieval, nela se integrou residência e paisagem, criando espaços de lazer e contemplação inspirados nos princípios de Leon Battista Alberti. Sob Lourenço, o Magnífico, os jardins de Fiesole tornaram-se um polo humanista, frequentado por pensadores como Marsílio Ficino e Pico della Mirandola. 

Também pertencente aos Medici, o Jardim de Boboli, parte do Palácio Pitti, em Florença, é hoje um dos locais mais visitados da Itália. Após a compra do palácio por Eleonora de Toledo, esposa de Cosimo I, em 1549, Niccolò Tribolo projetou o jardim, erguido sobre uma colina triangular junto ao Forte Belvedere. Sua composição unia rigor geométrico e teatralidade, símbolos do ideal renascentista. Com a morte de Tribolo, Vasari, Ammannati e Buontalenti ampliaram o projeto, que alcançou mais de 30 hectares, mesclando equilíbrio clássico e exuberância barroca. 

O eixo principal sobe até o anfiteatro, transformado entre 1630 e 1634 por Giulio e Alfonso Parigi em um monumental espaço cênico, onde, em 1637, ocorreu a coroação de Vittoria della Rovere — marco da função política e cerimonial do jardim. Entre suas obras-primas, estão a Gruta de Madama (1553–1555) e a Gruta Grande de Buontalenti (1583–1593), adornadas com esculturas, jogos d’água e formações calcárias que expressam o domínio artístico sobre a natureza. 

Nos séculos seguintes, novas adições ampliaram seu esplendor: o Viottolone, avenida ladeada por estátuas que conduz ao Isolotto coroado pela escultura Oceano, de Giambologna; e o obelisco egípcio de Heliópolis, instalado no anfiteatro em 1790, símbolo da união entre o antigo e o moderno. Sob Cosimo III, em 1677, foi criado um zoológico com espécies exóticas — leões, leopardos, aves e até um hipopótamo chamado Pippo —, reflexo do fascínio renascentista pelo conhecimento e da ambição dos Medici de dominar e classificar a natureza. 

Anfiteatro do Jardim de Boboli. Foto: Gabinetto Fotografico/ Le Galleria Degli Uffizi.

Da ciência à alquimia: jardim como laboratório  

No século XVI, os citrinos — frutas como laranjas, limões e cidras — tornaram-se símbolo de prestígio, poder e saber. Cultivá-los e exibi-los em jardins aristocráticos era demonstração de riqueza e refinamento, mas também de erudição científica e curiosidade natural. Essas plantas exóticas, originárias do Oriente, fascinavam pela fragrância, pela beleza e pelas propriedades medicinais. 

Valorizados na farmacopeia renascentista, os citrinos eram considerados essenciais para preservar a saúde: suas cascas e flores eram usadas em elixires e perfumes, e seu suco — rico em vitamina C — ajudava na prevenção de doenças como o escorbuto. O aroma das flores de laranjeira, associado à pureza e à fertilidade, também lhes conferia um valor simbólico, tornando-as presença constante em celebrações de casamento e em representações artísticas de abundância e renovação. 

Na Toscana, o cultivo dessas plantas sensíveis ao frio levou ao desenvolvimento de um tipo específico de arquitetura: a limonaia, edifício projetado para proteger as árvores durante o inverno. A Limonaia Grande de Boboli, construída no antigo local do zoológico entre 1777 e 1778 por Zanobi del Rosso, é um exemplo notável desse engenho técnico e estético. O edifício ainda abriga mais de 500 vasos e cerca de 90 variedades de cítricos, muitos deles raros, cultivados em grandes vasos de terracota. O cuidado minucioso com o transporte e a manutenção das plantas exigiam jardineiros especializados e recursos significativos, tornando a limonaia não apenas um espaço funcional, mas também um símbolo de poder, ciência e harmonia entre natureza e arte. 

O Jardim de Boboli também reflete o interesse dos Medici pela filosofia hermética e pela alquimia. Cosimo I e Eleonora de Toledo idealizaram um percurso simbólico em que a natureza espelhava a jornada espiritual da alma. Em 1618, a Vasca dell’Isola recebeu esculturas de Vênus e Citera, tornando-se a Isola delle Delizie. Como afirma Sandro Scaffardi, “o jardim alquímico é substancialmente um lugar do espírito, onde a linguagem da natureza é a linguagem da alma”. 

Vila Medici, em Fiesole. Foto Sailko

Isola Bella e o Barroco em plenitude 

Uma das joias do paisagismo europeu, Isola Bella, no Lago Maggiore, no Piemonte, representa a síntese barroca do poder e da arte. Pertencente à família Borromeo — nobre linhagem toscana estabelecida em Milão no século XIV —, a ilha foi transformada por Carlo III Borromeo, em 1632, em um esplêndido refúgio dedicado à esposa Isabella D’Adda. 

Sob a direção de Angelo Crivelli e Carlo Fontana, ergueu-se o Palácio Borromeo, uma das mais expressivas obras do barroco italiano. Os jardins, concluídos por Carlo IV e inaugurados em 1671, formam dez terraços sobre o lago que evocam uma nau triunfal — o palácio como proa, os jardins como popa. O percurso passa pelo Átrio de Diana, pelo Piano della Canfora, com sua monumental árvore de cânfora de 1820, e culmina no Teatro Massimo, estrutura adornada com estátuas, obeliscos e grutas.
 
Outros espaços, como o Giardino Quadro e o Giardino Triangular, completam o cenário no qual arte, natureza e arquitetura se unem em teatralidade e simetria. Isola Bella permanece como uma das mais encantadoras expressões do barroco europeu e um símbolo duradouro do legado Borromeo — a celebração do poder humano em harmonia com o mundo natural. 

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