Contos de vampiros existem há milênios, mas vampiros evoluíram muito através dos séculos. Praticamente todas as culturas ao redor do mundo têm mitos referentes à criatura que sobrevive do sangue de outros, das chupacabras à Lilith, a primeira mulher de Adão na tradição judaica. Mas não foi até o final do século XIX que o vampiro atual começou a se formar. O Vampiro, que começou com Bela Lugosi e passou por Gary Oldman na adaptação cinematográfica de Drácula, do autor Bram Stoker, que foi de Brad Pitt e Tom Cruise na Entrevista com o Vampiro, de Ann Rice, e que finalmente se tornou a salsada composta por Crepúsculo, os Diários do Vampiro, True Blood e outras variações adolescentes hollywoodianas.
Mesmo aqueles que não são fãs do gênero – e confesso que sou – já conhecem todas as características básicas de um bom vampiro. Ele deve ser charmoso. Misterioso. Podre de rico. Sensível e, por trás dos dentes afiados, ter um coração muito humano (mesmo que não bata mais). Deve, é claro, viver eternamente. Na verdade, acredito que venha daí nosso fascínio por estes seres. Num mundo em que temos acesso aos recursos mais impressionantes, o que faríamos se tivéssemos todo o tempo do mundo?
Ganhar dinheiro, é claro. Sairiam pela janela aqueles empregos com carteira batida, escravos de nossa necessidade de ganhar o suficiente para pagar as contas ao final do mês. Com uma eternidade à frente, e sem ter de gastar no supermercado, por que não se arriscar com seu dinheiro? Roubar? Fraudar? Juntar uma fortuna familiar, mesmo que não seja de sua família? Não teríamos mais aquelas responsabilidades chatas que nos pesam, como a hipoteca ou o seguro do carro, a escola das crianças, o fetiche de bolsas da esposa.
Mas também não teríamos mais os laços familiares e de comunidade. Não teríamos mais as coisas que nos tornam, bem, humanos. Amor, amizade, carinho. Os laços que fazem a nossa vida valer. Ser mãe, pai, filha, filho, amigo, amante. O toque caloroso de uma outra mão, o carinho amoroso dos lábios de outro sobre nossos lábios, o olhar de pura admiração de uma criança. E então chegamos ao xis da questão – porque, apesar de sonharmos com a eternidade, livre de responsabilidades, confessamos que, no fundo, no fundo, sentiríamos falta dessas conexões. A vida eterna perde seu charme se tivermos de passá-la sozinhos, perdidos no ártico emocional.
Pois é aí que entra em cena o vampiro moderno, que pode ter o melhor dos dois mundos. Bill Compton e sua amada Sookie; Bella e Edward, que, de tão adoráveis, me dão ânsia; Damon e Stefan, os irmãos eternamente atormentados que disputam o amor de Elena – os vampiros hoje podem viver para sempre e também viver o momento, viver o amor, viver, de fato, a VIDA em cheio.
E se assim for, quem não gostaria de viver para sempre?
Eternidade Sangrenta
por Leticia Lima