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Era um garoto, que como eu, amava educação

por Carla Mayumi

A primeira vez que vi o André foi numa foto. Lá estava ele, em plena avenida Paulista, segurando um cartazinho onde se lia a palavra “sorria”. Na foto, conheci o sorriso de orelha a orelha que passaria a ver com frequência. Mais de um ano depois, me vi ao lado dele, na mesma avenida, segurando um cartaz em que estava escrito “qual a escola dos seus sonhos?”. Virei pra ele e falei: “Acabei de me dar conta agora de que te conheci através de uma foto segurando um cartaz aqui”. Ambos sorrimos. O André é assim. Tem um poder se mobilizar pessoas quase sem que percebam. Talvez sequer ele perceba. Com aquele sorriso, os olhos muito abertos, serenidade e palavras profundas, quer, verdadeiramente, resolver alguns dos problemas do mundo.

Em 2011, tive a felicidade de conduzir, com meus colegas da Box1824, uma grande pesquisa intitulada Sonho Brasileiro. Investigamos os sonhos dos jovens e suas aspirações com relação ao Brasil, e foi assim, numa foto tirada durante a pesquisa, que o André apareceu para mim pela primeira vez. Desde que o conheci fui me envolvendo com seus projetos, quase sem pensar, fascinada por aquela vontade de mudar o mundo “na hora do almoço”, como escreveu numa matéria da revista Vida Simples.

Juntos e com mais uns quinze voluntários, organizamos um TEDx chamado Jovem Ibira, em novembro de 2011. Atualmente, o mesmo grupo, com mais algumas pessoas que foram chegando, conversa sobre o próximo TEDx, cuja licença está em nome do André e que vai se chamar TEDxSéed – uma brincadeira com o nome Sé (um local em São Paulo) e com a palavra seed, semente em inglês, e ainda “ed”, de educação.

A arte das palavras é algo que estimula esse jornalista recém-formado. Aliás, cedo ele entendeu que só sabe falar bem e escrever bem quem sabe pensar bem. Por isso, sempre buscou aprofundar seus conhecimentos, especialmente em filosofia, história e literatura. Conseguiu uma bolsa para fazer cursos – esteve em mais de cinquenta – em uma instituição reconhecida e sofisticada. A bolsa de estudos é fruto de uma carta de próprio punho que enviou, quando tinha dezoito anos, para o fundador da escola.

Um dia, passada nossa aventura do TEDx, André me chamou para uma conversa. Queria me contar de seus novos projetos. Naquele dia, descobrimos uma paixão em comum e começamos a falar da nossa vontade mútua de mexer com educação. Sempre interessado pelo assunto, queria se dedicar de corpo e alma ao tema que, segundo ele, é essencial para que as pessoas alcancem outro estágio de autoconhecimento. Tendo estudado em escolas públicas na periferia de São Paulo, viveu uma realidade negativa, que quer mudar. “Não entendo porque a jornada de educação que me ofereceram fecha os olhos para a beleza da vida e o encantamento com o mundo” – desabafa. Intuía que o processo de aprendizagem poderia ser muito mais rico em significado, e certamente muito mais apaixonante para alunos e professores.

Enquanto a gente mirabolava o que poderíamos fazer juntos, recebemos um chamado, quase do além de tão em sintonia com o que pensávamos. Eduardo Shimahara me convidou para trocar uma ideia sobre seus sonhos ligados à educação. Perguntei se poderia levar o André ao encontro. Foi ali que começou uma nova fase – a atual – das nossas vidas.

Um dos sonhos do Shima era escrever um livro sobre escolas inovadoras. Abraçamos o sonho, que virou nosso também. Hoje somos Shima, André, Carla e Camila – o Coletivo Educ-ação – e estamos em pleno processo de escrever o livro desejado. O talento de artesão das palavras nos levou a escolher o André para ser o escritor do livro.

Quando nos demos conta, nosso sonho tinha virado uma jornada para alguns países ao redor do mundo em busca de projetos de educação inspiradores. O projeto do livro consiste em visitar presencialmente doze iniciativas planeta afora – três delas no Brasil – para investigar o que pode inspirar os brasileiros nos nossos modelos de educação. O André já visitou quatro destas iniciativas, três das quais na Europa, num processo de imersão que durou quatro semanas e em que entrevistou mais de setenta pessoas. Desde julho, está em um mergulho profundo nas vidas e mentes de quem está por trás das instituições: aqueles homens e mulheres que as criaram e os que estão vivenciando seu cotidiano. Uma gama de pessoas está sendo ouvida, dos fundadores aos alunos, professores e pais. Conteúdo mais do que suficiente para que educação tenha virado o ar que respira.

Nossas conversas agora giram em torno do que vamos aprendendo nessa jornada, que já cobriu sete das doze iniciativas que estarão no livro. Quando nos encontramos, falamos das experiências transformadoras dos alunos do YIP, programa sueco que convida os jovens a pensar sobre sua missão no mundo e que, para isso, promove encontros com um novo especialista a cada semana. Falamos da Green School, que recebe alunos de todo o mundo em uma escola feita de bambu, onde as aulas temáticas são o jeito que os professores têm de fazer os alunos se apaixonarem pelo que aprenderão. E assim, aos poucos, André vai descobrindo que existem, sim, maneiras de dar um novo sentido ao processo de aprendizado e que a educação pode abrir os olhos para as belezas do ser humano e do mundo. E sua história vai se entrelaçando com a transformação que quer propor. Em 2013, junto com o Coletivo Educ-ação, será o autor de um livro sobre novos modelos de educação.

Essa é uma pequena parte da história de André Gravatá, que se dedica de coração a tudo o que faz. Um dia ele me deu um livro de presente. O volume veio cheio de post it colados nas páginas, que “conversam” comigo enquanto leio. Esse é o jeito André de ser e de convencer… Cuidado quando encontrá-lo. Ele pode levá-lo, também, a acreditar que consegue mudar o mundo, se quiser.