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#15TempoEditorial

Editora convidada: Ana Cláudia Arantes

por Ana Claudia Quintana Arantes

Trabalho de Ricardo Alcaide

Trabalho com pessoas gravemente doentes, que, quando chegam aos meus cuidados, já esgotaram todas as possibilidades de cura ou controle de seus males. Isso significa que meu ofício, como médica, concentra-se em aliviar o sofrimento que a natureza da doença vem trazendo. E isso também significa que esses pacientes têm muito pouco tempo de vida.

Preparei-me muito para escrever essas linhas aqui. Não pense que foi por alguns meses apenas, por um simples período ao longo do qual procurei pelas origens das citações e reflexões que me tomaram o sono desde o convite para participar desta edição. Para escrever essas linhas, revirei minha própria história, meu tempo até aqui, o que fiz dele, o que estou fazendo ainda. Busquei antigos textos, livros, entrevistas que concedi a publicações recentes e a outras nem tanto. Numa delas, disse que escolhi essa área da medicina por valorizar meu tempo e que, por isso, sentia-me capaz de valorizar o tempo do outro. Acho que, nessa resposta, dei o melhor motivo de existir, de viver. Dou valor ao meu tempo… Quem está morrendo não tem o que desperdiçar com quem não sabe o valor do tempo, e eu me dedico muito a respeitá-lo.

Lidar com a morte faz parte de quase todos os meus dias. E eu preciso me preparar sempre para cada um deles. A dedicação à minha formação técnico-científica continuada, o cultivo dos valores da humanidade e o constante autocuidado precisam estar em perfeita harmonia. Sem este equilíbrio, é impossível dar o melhor pelo que faço – e é isso o que me permite adormecer em paz todas as noites.

Esse trabalho, porém, nunca pode ser feito no “automático”, pois preciso manter uma atenção plena em cada gesto e ser muito cuidadosa com minhas palavras, com meu olhar e principalmente com meus pensamentos. Todos devem ser absolutamente transparentes diante de alguém perto da morte. É impressionante como as pessoas adquirem uma verdadeira “antena” captadora da verdade quando se encontram com a morte e o sofrimento da finitude. Sempre digo que parecem oráculos… Com uma lucidez incrível, sabem tudo o que realmente importa. E, cada vez mais, fica muito claro que essa lucidez transborda para minha vida também, um grande e sagrado privilégio que entra na conta de uma fala muito comum: “Deus te pague!”. Entendo perfeitamente que é assim que Deus me paga: dando-me tantas chances de aprender com grandes mestres, grandes seres que generosamente ensinam sobre a beleza e o poder da vida, do amor, do perdão, da paz.

As pessoas precisam compreender que não há fracasso diante de qualquer fim, seja de uma relação afetiva, seja de um emprego, de uma carreira, de um espaço, de qualquer tempo, das doenças terminais… O fracasso não existe, pois onde termina um ciclo se inicia outro, sempre e sempre e sempre. Mesmo que não se acredite na vida após a morte, ainda assim é inegável que a vida dos que ficam vai ser outra, diferente. E é preciso ter respeito pela grandeza do ser humano que enfrenta qualquer fim, até a sua morte. O verdadeiro herói não é aquele que quer fugir na hora desse encontro, mas, sim, aquele que a reconhece como sua maior sabedoria.

Hoje, milhões de pessoas se depararão com algum fim em suas vidas. Como é dito no Eclesiastes, perceberão que tudo tem seu tempo e que a vida termina. Cabe a nós, diante do abismo, olhar para trás e reconhecer que o que se encerra nos deu asas a nos entregar e a voar para outros horizontes. Penso que é a grandeza da nossa mortalidade, ou melhor, da consciência da nossa mortalidade.

No Brasil, mais de um milhão de brasileiros morrem a cada ano. E a grande maioria, com grande sofrimento. Sofrimento físico, por falta de formação dos médicos; psicológico, por falta de formação existencial; espiritual, por falta de sensibilidade a respeito do valor da vida. Um dia seremos parte dessa estatística, nossos amados integrarão esses números. E que histórias de últimos dias contarão a nosso respeito? Do que lembraremos nos últimos momentos de quem amamos tanto? O que dirão sobre o que fizemos com o nosso tempo? Hoje estou por aqui para tentar ajudar a encontrar uma boa resposta…

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