Você é de Curitiba. Como veio parar em São Paulo?
Nasci em Curitiba e me mudei com a família para o Rio, em 1962. Na década de 1970 nos mudamos para Portugal, onde iniciei meus estudos na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Em 1974, houve a Revolução dos Cravos em Lisboa, e as escolas e universidades fecharam. Com isso, voltei para o Brasil, e fui morar no Rio.
Um ano depois tranquei a matrícula e voltei para a casa dos meus pais em Curitiba. Fui morar na Chácara, nos arredores de São José, onde passei um ano pintando.
Nessa época, comecei a vir com frequência para São Paulo, a trabalho, a convite da Rita Lee, para fazer a capa de seu LP Rita e Roberto, depois Pedro e o Lobo, pela Odeon. E então veio o convite inesperado, da produtora de filmes Studio ZH, para trabalhar com eles e fazer a direção de arte e criação dos personagens do filme Pantanal Alerta Brasil, produzido por Daniel Taubkin e Rita Figueiredo.
Conheci o “Z”, o Zelada, e em seguida o “H”, o Cao Hamburguer, e depois os outros membros da equipe, com os quais me encantei. Vivian Altman, especialista em modelagem, o Renato Theobaldo, o Felipe Tassara, o Bini, o Fernando Coster e Marcelo Durst, um fotógrafo genial.
A casa era um sonho. Abria a geladeira e estava cheia de bonecos. O porão era a oficina do Zelada e do Bini. Tinha uma salinha de pintura, estufa para secar látex e muitos materiais incríveis. Fiquei muito amigo de todos, e ganhei a chave da casa para que, quando viesse do Rio, pudesse ficar aqui. Essa é a casa aonde vim, para morar, depois que a ZH fechou e cada um foi seguir o seu caminho.
Nos conte um pouco do seu background e sobre como você começou a se interessar por arte.
Meu pai é arquiteto e engenheiro. Sempre frequentei, em sua companhia, as obras que executava e projetava. Convivi desde a infância com os materiais de seu ateliê, em casa e fora também. Era uma sensação maravilhosa ver a planta topográfica ser executada em maquetes 3D – manualmente – feitas por artesãos locais, tanto em Curitiba como no Rio e em Lisboa.
A casa em que nasci era modernista, feita pelo meu pai, na década de 1950. A mobília da sala de jantar era do Tenreiro, tinha um biombo do Eames e mesa de apoio do Noguchi. O [artista] Loio Pérsio pintou uma parede da casa, meu pai pintou um painel de azulejos para a fachada. Lembro que o [pintor] Nilo Previdi frequentava a casa. Meu avô tinha uma coleção de pinturas dele, cujo tema recorrente eram cavalos e animais em larga escala – algo estonteante para o olhar de uma criança.
Sempre me interessei por arte. Desde criança, naturalmente. Por dom, gostava de desenhar.
Vi minha primeira exposição de arte no Instituto Calouste Gulbenkian, do Paul Klee – foi impactante. Nessa época, vi Op-Art e Pop-Art, DADA e Bauhaus, Roy Lichtenstein e Andy Warhol, Rauschenberg e Jasper Johns, Claes Oldenburg e outros clássicos da Pop Art. Esse período foi fundamental na minha formação. Em 1976, fui para Londres estudar pintura na Byam Shaw School of Drawing and Painting, onde fiquei até 1979. Lá, mergulhei a fundo na educação clássica da arte e da pintura. As melhores lições e conselhos que poderia dar a alguém, trago de lá. Estude arte pura, estude os grandes mestres do passado. Estude aqueles artistas com quem você sente uma identidade, uma cumplicidade, não somente na pintura mas também em outros meios como a fotografia, o cinema, a escultura, o design e a arquitetura. Pratique desenho à mão livre, sempre. Não existe tempo definido para aprender e ensinar. Observe a natureza como um elemento da vida e de transformação. A luz, as cores, as formas. Dedique seu tempo precioso a construir um lar em seu espaço de conviviabilidade, com trabalho e pessoas. Aprenda a cozinhar e criar as suas próprias receitas. Cuide bem de sua produção artística.
Você é um cara extremamente talentoso e inspirado. Acredita que talento por si só acontece
Talento e inspiração não fazem acontecer nada sem muito trabalho, disciplina, ordem e pesquisa de diferentes fontes.
Descreva seu ambiente de trabalho. Como o local em que você trabalha influencia sua produção?
Meu ambiente de trabalho passou a ser em qualquer lugar. Com pouca coisa e nenhuma necessidade a não ser o próprio material que me proponho usar.
Nos conte um pouco a respeito do seu processo criativo.
Acredito que a espontaneidade e as circunstâncias nos levam a execução de um trabalho. O processo criativo é também intuitivo. A elaboração mental de como executá-lo pode-se expressar através do desenho ou pintura ou escultura. A organização dos materiais, dos instrumentos e do espaço onde o trabalho será desenvolvido é fundamental. No final, o processo de criação da obra transcende o artista.
Existe algum trabalho/projeto com o qual você se sinta mais realizado?
Todo o trabalho é uma realização.
Quem você citaria como suas maiores fontes de inspiração?
As fontes de inspiração são inesperadas. Não têm precedente. Arte, arquitetura, música, dança, cinema. A natureza e suas majestosas criações. O cotidiano da vida, as pessoas com quem me relaciono, os anônimos.
É sempre importante revisitar os velhos mestres. Tenho pesquisado os trabalhos de Donald Judd, Axel Vervoordt, Richard Serra, Noguchi e as pinturas de Baselitz, Pat Steir, Kiefer, Guston, Louise Bourgeois.
O que gostaria de fazer que ainda não fez?
Tenho feito o que gosto a vida inteira! É um privilégio poder rever, organizar e selecionar o meu próprio trabalho, minha própria produção.