In progress: Ricardo Alcaide
O projeto SITU, desenvolvido pela Galeria Leme com curadoria de Bruno de Almeida, é uma plataforma de produção e pesquisa artística que promove um diálogo entre arte, arquitetura e cidade, especificamente criado para o espaço externo da galeria Leme, projeto arquitetônico comissionado ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha.
Fazer a instalação para a terceira edição do projeto foi um desafio novo para mim. Além da complexidade de pensar uma obra que se relacionasse às enormes proporções do espaço, ela teria de ser uma extensão natural do meu trabalho e, também, precisaria dialogar com as linhas conceituais propostas pelo curador. Depois de inúmeros esboços, reuniões e conversas para resolver de forma coerente a pesquisa, o conceito e a materialidade da instalação – esta finalmente possível com a precisa execução da equipe Marton Estúdio, que procurei sem hesitar para levar minha visão à realidade com absoluta perfeição e com o mesmo rigor que apresenta o projeto arquitetônico.
Para a obra, usei madeirite plastificado, um material utilizado na construção civil para moldes de concreto in situ. Sua escolha está relacionada com o próprio método construtivo das paredes de concreto da galeria e, por outro lado, é um material que garantiria uma grande resistência da obra às mudanças climáticas.
Do ponto de vista técnico, uma das principais preocupações foi o escoamento das águas do pátio. Como a instalação anula o espaço entre os dois edifícios da galeria, ela acaba cobrindo todos os pontos de escoamento de água. Como o período de exposição iria coincidir com a época mais chuvosa do ano, decidimos, no momento da montagem, para minimizar complicações maiores, deixar pequenas frestas entre as chapas de madeirite e, também, entre a instalação e o edifício, que facilitariam o escoamento sem perder o aspecto de volume maciço.
A principal intenção da obra é interromper o funcionamento normal da galeria, cortando o fluxo habitual do edifício e dificultando algumas das funções prescritas pelo projeto arquitetônico, como a entrada e o estacionamento de carros no pátio, o uso das portas laterais e o acesso à campainha, que ficava, literalmente, dentro da obra.
O projeto é um grande volume escultórico à primeira vista, mas é como se fosse parte integrante da arquitetura e obstrui e ocupa o espaço de modo extremamente disfuncional