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#24PausaArteCidadesMúsica

Temporada

por Bem Gil

Uma das grandes especulações em torno do nascimento de uma criança diz respeito à data em que virá ao mundo. Nascemos datados. Isso faz com que a passagem do tempo se revele impiedosa e constante desde sempre. A música me faz estar alheio a esse imperativo. Observando de perto as estruturas “datadas” do período Inca, assim como todas as características da região que as preserva, tive uma grande sensação de liberdade nesse sentido.

Há quem sinta o tempo como sendo um acumulado de planos, todos simultâneos, além ou apesar de contínuos. E penso que, para essas pessoas, a impossibilidade de acessar os diferentes planos provoca o que chamamos de saudade. Um dos sentimentos universais relacionados ao nosso período de vida consciente, mas que sinto pouco. Ou, pelo menos, a angústia causada pela falta de algo que já não se acessa mais (descrita e cantada pelo rei do baião como sendo amarga “qui nem jiló”) não costuma ser latente em mim.

Estive recentemente no Peru, minha segunda passagem pelo país vizinho, a primeira com foco turístico (havia estado por lá anteriormente para uma apresentação musical). Dessa vez, também por conta da música, tive a oportunidade de adentrar um pouco mais o território habitado e transformado alguns séculos atrás pelo povo Inca. Como um dos criadores do projeto Terramundi Creators, recebi a encomenda de um olhar (específico e próprio do meu ofício) por essa região e acabei me deparando com essa associação direta entre a música e a capacidade de transmutação da nossa percepção em relação à passagem do tempo.

Como ferramenta de trabalho, faço uso constante de um equipamento eletrônico ligado ao instrumento, que provoca repetições programadas e controladas por parâmetros diversos em todos os sons gerados. Uma espécie de eco artificial, conhecido entre os usuários como delay (atraso). O uso desse tipo de recurso me faz perceber o som gerado como algo vindo das duas direções do tempo, passado e futuro. A natureza da região de Cusco é também especial nesse sentido. São paisagens circulares, como se um eco gigante e infinito estivesse o tempo todo atuando.

O curioso é que minha relação com a música sempre se desenvolveu a partir da oposição diametral entre o que está por vir e o caminho percorrido até aqui, e me acompanha a sensação de que tudo está na mesma linha multidirecional. Por ter um pai músico e trabalhador no campo da música como entretenimento, me acostumei desde cedo a viajar em função de shows e gravações. E foi muito por conta da expectativa e da vontade de seguir circulando por aí que acabei por me dedicar à mesma atividade.

No Peru, fomos aconselhados por guias locais a não apenas observar os sítios arqueológicos por si só (apesar do elevado grau de encantamento provocado pelas construções para além da engenharia ou da arquitetura), mas sim a procurar entender o porquê da escolha daqueles pontos específicos.

Já havia tido uma experiência, na Itália, muito interessante nesse mesmo aspecto. Um anfiteatro romano na região de Florença é considerado por muitos como tendo uma das melhores resoluções acústicas do mundo. E, ao questionar sobre essa especialidade, argumentei que não havia ali nenhum tipo de estrutura aparente que me fizesse crer no mérito da engenharia como responsável por tamanho equilíbrio entre absorção e reflexão de som. Responderam-me que o lugar era especial (não só a construção) e por isso havia sido escolhido para abrigar o teatro.

Lembrei exatamente disso ao chegar em Machu Picchu. A beleza e a magnitude da cidade são constantemente ofuscadas pelo que se observa no entorno. Toda circundada por montanhas que parecem moldadas a mão, o complexo nos transporta para uma dimensão além do alcance do tempo, ficando claro o porquê da escolha de um lugar tão específico para se construir e viver, e o porquê do encantamento e do envolvimento de gente do mundo todo com o lugar, para além de um simples passeio turístico. Estar ali é viajar no tempo e, mais do que isso, é abrir mão dele.

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