Skip to content
Revista Amarello
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Entrar
  • Newsletter
  • Sair

Busca

  • Loja
  • Assine
  • Encontre
#22DuploCulturaLiteratura

Hackeie o Dois

por Rogério Zé

Identificamos. Depois, classificamos pessoas, coisas, situações e circunstâncias. Para facilitar, a cada treco, encontramos seu oposto. O objeto fica, assim, definido tanto pelo que é quanto por tudo o que não é – a “outra coisa”.
Pensamos em módulo Dois.

Não sei em qual momento da evolução decidimos organizar as ideias, valores e opiniões desse jeito. Não sei se biologicamente somos construídos para agir assim – seria nosso cérebro programado dessa forma? Não sei se algum ancestral nosso recebeu uma ordem expressa: “é assim que se pensa”, e passamos a repeti-la como um exército enfileirado gerações adentro. Tampouco desconfio se este é um estratagema de algum mal-intencionado e entendido em comunicação que, com esse ardil, manipula-nos para estreitar nossa visão.

O fato é que algum instinto nos leva a pensar em baias. Há a nossa e a “de fora”. Outro ou outros, isso não importa. Todo o mais é diferente.

*******

Minha família “não se mete em confusão”. Estudei em colégio tradicional católico. Como diversão, escolhi jogar bola e ouvir rock. Entrei em faculdade de Comunicação e, de lá, para o mercado. As preferências políticas eram sólidas. A visão de mundo, idem. E alguma facilidade para falar e escrever rebocaram minhas opiniões, dando a elas o acabamento que me servia. As grandes certezas me faziam dormir tranquilo enquanto o outro lado armava algo para dominar o mundo.

Mas aí o mundo resolveu mudar. Tecnologia, informação, conhecimento, comportamento… Tudo entrou em transe, nome mais apropriado que “transição” (já que a segunda supõe que conheçamos o destino das mudanças, o que não é exatamente verdade). Todas as jaulas se abriram, e os animais deram as mãos a tratadores, vendedores de pipoca, visitantes e quem mais encontraram no caminho, criando novas raças, arranjos, funções e métodos. Darwin ficaria encantado. E também intrigado, pois tudo e todos convivem: o azul, o vermelho e quem só acredita nessas cores; as outras cores; as cores novas; pessoas binárias para determinados assuntos e, ao mesmo tempo, multinárias para outros.

Eu me vi, ironicamente, em uma dicotomia: continuo naquele mundo do “é assim mesmo”, Fla-Flu, par ou ímpar, ou mergulho no abismo vazio entre os Dois extremos para ver se, lá, alguma forma de vida desconhecida me devora? O Dois ficou apertado para mim. Visto a sunga e dou um jump. Para minha surpresa, sobrevivo no oceano incerto. O mundo é, mesmo, líquido.

Abri um pouco mais meus sentidos, em busca de algum sentido. Vi que estreita mesmo era a minha experiência de vida. Sempre houve pessoas, comunidades, culturas mais alinhadas a outros pensares. O binário podia até ser hegemônico, mas (eureka!) nunca único. Entre leituras e ouvidos atentos (apenas para ficar em um exemplo), tomei contato com o taoísmo, tradição milenar chinesa. Em seu livro sagrado Tao Te Ching, Lao Tsé ensina: “O Tao [o caminho] gera o um. O um gera o dois. O dois gera o três, que gera dez mil coisas”.

Cheguei a considerar coisas como “a esquerda e a direita, de fato, acabaram”. Mas elas continuavam e continuam presentes, junto a outras interpretações. Mais que isso, está nascendo uma nova democracia e uma nova política, que inclui em um mesmo ambiente as formas antigas – até mesmo as mais nefastas.

Lindo, mas nada simples.

Enquanto o conhecimento, a crítica e a conexão começaram a criar outras formas de vida, está cada vez mais aceita a ideia de complexidade. Que, em um conflito, não restam apenas vencedores e vencidos. Há cada vez menos segredos e menos silêncios. Considerações são e serão feitas sob todas as óticas. E qualquer decisão que ignore os vários lados da moeda nasce com a certeza de que será revista.

Talvez seja por isso que há uma clara reação do mundo arcaico. Reacionários não conseguem compreender um planeta que foge cada vez mais rápido, e para lugares a cada minuto mais distantes, de sua ótica. É muito descontrole para uma visãozinha de mundo só. Taca-lhe pau em ideias como o casamento homoafetivo, aborto, combate ao racismo etc.

Eu, que tenho uma dificuldade danada com esse novo mundo, resolvi exercitar. Talvez para tornar o transe mais doce, junto com minha sócia, Marcia, criamos o Oppina, uma plataforma de informação que reúne opiniões diversas – complementares, divergentes, opostas – a respeito de temas urgentes e polêmicos. Assuntos relevantes serão tratados por especialistas e líderes em suas áreas, valorizando pontos de vistas diferentes e o ambiente de respeito às diferenças. Nosso projeto propõe o exercício da escuta, do respeito e da tolerância.

E por que estamos fazendo o Oppina acontecer?

Porque a necessidade de costurar acordos para viabilizar a vida passa pela aceitação da complexidade. Porque, para não estagnarmos, precisaremos hackear o espaço entre os polos opostos, fazendo emergir ideias existentes e, também, criar novas. E, neste ambiente, contribuir para o entendimento de que em opiniões diferentes há, também, conhecimento a ser contatado, conhecido e respeitado. Concordar ou não com o que se diz é apenas circunstancial. Basta que estejamos disponíveis a escutar ao invés de, agarrados às nossas crenças, reagirmos a pontapés.

Na prática, daremos ao público interessado a oportunidade de escutar vários pontos de vista acerca do mesmo tema. Simplesmente porque há mais respostas que o “sim” e o “não”. A riqueza está, também, no “talvez”, na dúvida, no ponto de vista surpreendente. Nosso mundo não anda dando chance a quem tapa os ouvidos seletivamente.

Viver a dois é ótimo. Pensar em Dois, não dá.

Gostou do artigo? Compre a revista impressa

Comprar revista

Assine: IMPRESSO + DIGITAL

São 04 edições impressas por ano, além de ter acesso exclusivo ao conteúdo digital do nosso site.

Assine a revista
Compartilhar
  • Twitter
  • Facebook
  • WhatsApp

Conteúdo relacionado


Sonhos não envelhecem

#49 Sonho Cultura

por Luciana Branco Conteúdo exclusivo para assinantes

Dados no jornalismo

#27 Perspectivas Cultura

por Guilherme Felitti Conteúdo exclusivo para assinantes

Educação para todos

#30 Ilusão Cultura

por Marcelo Sevaybricker Moreira Conteúdo exclusivo para assinantes

Matheus Chiaratti e sua terra de referência: Rivane Neuenschwander

# Terra: Especial 10 anos Arte

Castro Maya, William Morris e uma qualidade

#10 Futuro Cultura

por Eduardo Andrade de Carvalho Conteúdo exclusivo para assinantes

Dois e dois são dois: Zola Star e François Muleka

#44 O que me falta Arte

O que você está fazendo aqui?

#13 Qual é o seu legado? Cultura

por Bruno Pesca Conteúdo exclusivo para assinantes

A Estrangeira

#31 O Estrangeiro Cultura

por Juliana de Albuquerque

Diga-me por onde anda essa tal liberdade

#12 Liberdade Cultura

por Carmen Maria Gameiro Conteúdo exclusivo para assinantes

Editora convidada: Manuela Costalima

#21 Solidão Editorial

por Manuela Costalima Conteúdo exclusivo para assinantes

A morte do capital e a nova face do poder: a era dos dados

Sociedade

por Revista Amarello Conteúdo exclusivo para assinantes

Precisamos falar sobre Kevin

#7 O que é para sempre? Cultura

por Ana Paula Rocha Conteúdo exclusivo para assinantes

Naturismo e a busca pela vida simples

#2 Nu Cultura

por Flavia Milioni Conteúdo exclusivo para assinantes

  • Loja
  • Assine
  • Encontre

O Amarello é um coletivo que acredita no poder e na capacidade de transformação individual do ser humano. Um coletivo criativo, uma ferramenta que provoca reflexão através das artes, da beleza, do design, da filosofia e da arquitetura.

  • Facebook
  • Vimeo
  • Instagram
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Amarello Visita

Usamos cookies para oferecer a você a melhor experiência em nosso site.

Você pode saber mais sobre quais cookies estamos usando ou desativá-los em .

Powered by  GDPR Cookie Compliance
Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.

Cookies estritamente necessários

O cookie estritamente necessário deve estar sempre ativado para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.