Um cafezinho com Jeanete Musatti
Texto de Jeanete Musatti
Fotos de Derek Fernandes
Tomar café na casa de alguém é um convite para conhecer profundamente essa pessoa. Nossa casa é a casca que nos proteje do mundo. Ela é parte importante de nossa cultura particular, e reflete a maneira como enxergamos e gostaríamos de nos inserir no mundo.
Aqui, dividimos casas de pessoas que gostam de casa. Que têm suas casas vivas, cheias de objetos que contam a história de uma vida, sem um lugar perene em seus espaços.
Jeanete Musatti é artista plástica, paulistana, e nos recebeu com toda sua graça em seu sítio em Tietê, SP, em um dia de previsão de tormenta.
“A casa existe há cinquenta anos. Quando compramos o terreno, havia uma casinha de taipa, onde vivemos até a atual ficar pronta. Ao chegar, encontramos uma paineira centenária, dois pés de jabuticaba e uma plantação de café.
Depois, cultivamos um bosque de árvores e um pomar. A horta veio somente mais tarde, em um período em que uma epidemia de meningite nos fez viver com com as crianças durante cinco anos.
Entre idas e vindas, retornamos definitivamente à casa há quatro anos, durante a pandemia de covid-19. Reconheci, então, o valor de se ter uma casa no campo, que é a de habitar em um reino seguro, um universo vasto, profundo e ilimitado. Por muitas vezes, me sinto uma sonhadora de moradas, ao poder presenciar a mutação constante da natureza. Essa transformação me dá enorme prazer e é altamente inspiradora, influenciando diretamente no meu trabalho. A evolução do processo de um artista demanda precisamente isto: estar com o olhar sempre atento e constantemente disponível para aprender a viver — inclusive no caos.
O projeto da casa foi realizado pelo meu grande amigo José Pedro de Oliveira Costa, que também assina o paisagismo. Sou e serei sempre grata a ele pela dedicação colocada nesse espaço, que me permite estar tão integrada à natureza a ponto de poder observar no detalhe as cores esplênidas de cada florada, completamente envolvida pelo barulho do silêncio.”