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#4ColonialismoCrônica

Para felicidade geral, digo que fico

por Adriana Calabró

A construção que abriga a Casa Watanabe, na cidade de Registro, tem mais de 100 anos. Como uma autêntica remanescente da típica lojinha de “Secos e Molhados”, tem tudo para oferecer: armadilhas, iscas, bolsas, panelas, objetos de prata, artigos de papelaria, doces, cachaça, artigos típicos da região e muito mais. A frente do negócio está o Seu Watanabe, 82 anos, um senhor de origem japonesa que, com seu jeito polido e uma simpatia ao mesmo tempo tímida e encantadora, atende os clientes. A paciência oriental monta as traquitanas, explica os ingredientes, separa os objetos, embala cuidadosamente as compras. Nesse movimento, em que a venda também é puro artesanato, ele não está só: o filho e a esposa, dona Conceição, dão o suporte na loja, a única que permanece aberta em uma ensolarada tarde de domingo. Seu Watanabe, que mora na casa que fica bem atrás do estabelecimento com o seu nome, é uma espécie de versão de carne e osso do Museu Histórico da Colônia Japonesa que fica quase em frente. Em uma das inúmeras histórias guardadas em seu arquivo mental, ele conta que seu tio foi um dos responsáveis pela carta que requisitava formalmente ao presidente Getúlio Vargas que a comunidade japonesa pudesse permanecer na região durante a Segunda Grande Guerra. Por ser uma área com fácil saída para o mar, era considerada estratégica pelo governo e não poderia abrigar o “inimigo”. Inimigo? Os ancestrais de Seu Watanabe e de Dona Conceição? Difícil imaginar. Bem, mas o importante é que graças a essa movimentação – um verdadeiro Dia do Fico Nipônico -, Getúlio voltou atrás em sua decisão e concedeu o direito de permanência à colônia que está até hoje estabelecida na região. Por toda a parte, é possível observar vestígios da cultura e da história de um povo que, com olhinhos puxados e atentos, deu sua contribuição para a cultura de Registro e de todo o estado de São Paulo. Além do já mencionado Museu, edifício do começo do século XX que funcionava como um misto de engenho e armazém e que abriga desde fotos antigas de navios até um impressionante acervo de Tomie Ohtake, a cidade traz outras pérolas. Entre elas, estão o Templo Budista, que fica a apenas 2 quilômetros do centro, e o Bunkyo, sede da Associação Cultural Nipo-Brasileira, construído com arquitetura típica japonesa e onde há aulas de ikebana, tai chi chuan , origami e língua japonesa. É possível fazer uma autêntica massagem terapêutica por lá também. E por falar em tradições, vale lembrar que Seu Watanabe e dona Conceição se casaram de acordo com um dos mais arraigados preceitos da cultura de seu país de origem. Foi há 57 anos que um Naka Udo, ou seja, um padrinho que apresenta jovens “casadoiros”, escolheu um para o outro. Olhando para os dois senhores, lindos, afetivos e muito dedicados um ao outro, não há como não pensar na sorte que tiveram. A mesma boa fortuna não se apresentou para aqueles que trabalham no mercado, também próximo da lojinha e logo ao lado do rio. Quem explica é o Benedito, 74 anos, 11 filhos, ex-pescador e atual comerciante de peixes: “Antes não havia a estrada, então tudo era feito por embarcação, lancha, vapor. Tudo acontecia aqui no rio. Depois que a estrada chegou, a cidade ficou em torno dela, lá para cima”. Realmente o edifício malcuidado parece mais uma sombra do que já foi no passado. Nada que faça o seu Benedito, que é descendente de índios, mas tem o mesmo jeito tranqüilo do Seu Watanabe, perder a esperança. “Meus clientes fixos não compram em outro lugar”. Pelo jeito mais um brasileiro que, apesar de tudo, diz que fica.

Adriana Calabró é escritora e jornalista.

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