Vivemos uma revolução, como a tão conhecida Revolução Industrial. Agora é a vez da ambiental, que indica estarmos no limite da necessidade de mudança comportamental. Sustentabilidade, mais que uma poderosa ferramenta de marketing para as grandes corporações, virou uma questão de sobrevivência. Todas as discussões acerca deste assunto deveriam ser conduzidas com mais seriedade, clareza e respeito do que comumente é feito.
O instinto de sobrevivência é um dos mais primitivos e poderosos do ser humano; e, para que nosso futuro não seja a extinção, através da intoxicação planetária provocada por nós mesmos, teremos que lançar mão dele.
CARLOS Saldanha
Qual o seu contato com “o verde”?
O estúdio da Blue Sky, onde trabalho, fica numa área super arborizada. Durante minha hora de almoço, quando não tenho reuniões, como do lado de fora, para aproveitar um pouco do verde. Mas aproveito mais na primavera e no verão, pois no inverno fica tudo coberto de neve. Na verdade, meu contato mesmo com a natureza acontece quando venho ao Brasil de férias, passeando no Jardim Botânico e nas Paineras, e indo ao sítio do meu cunhado, no sul de Minas.
Muito se fala de sustentabilidade. O que significa esse conceito para você?
É tentar evitar o desperdício e viver dentro de um equilíbrio entre o conforto da vida moderna e a responsabilidade para com o meio ambiente. Temos de ter a consciência de que nossos recursos naturais são limitados e estão se deteriorando. Temos de encarar este desafio de preservação como prioridade para que possamos ter, através de soluções imediatas, alguma chance de melhorar nossa qualidade de vida em médio e longo prazos.
Nossos pais nos abriram portas com a revolução sexual feita por eles e pelos laboratórios farmacêuticos nos anos 1960. Nos dias de hoje o tema da sustentabilidade está em voga. Você acha que isso será a herança da nossa geração?
Espero que sim. Será o mundo que deixaremos e, se não cuidarmos agora, o futuro certamente será mais problemático.
Você, que mora em Nova York, qual a principal diferença que percebe no tratamento da responsabilidade verde entre Brasil e Estados Unidos?
O brasileiro vem evoluindo muito no que se refere à consciência de preservação, mas ainda estamos longe dos padrões dos americanos. Nos EUA, a noção de responsabilidade para com o meio ambiente envolve mais camadas da sociedade e, com isso, tem mais impacto no dia a dia. No Brasil, este movimento ainda é bastante restrito.
Você acredita no sistema de reciclagem de lixo da sua cidade? Recicla seu lixo?
Sim, temos um programa eficiente de coleta seletiva, e todos participam. As crianças lá em casa já aprenderam, e isso agora faz parte de nossa rotina.
Além da reciclagem do próprio lixo, o que você considera ações básicas para um cidadão urbano sustentável?
Economia de energia e água, e redução de emissão de CO2, procurando meios de transportes alternativos.
Como é a sua utopia do verde nas grandes cidades para as próximas décadas?
Cidades arborizadas, com parques e jardins. Espaços que valorizem os pedestres e ciclistas, com transporte urbano de mínimo impacto ao meio ambiente. Reciclagem de 100% e controle dos poluentes e resíduos. E uma população consciente de sua responsabilidade de preservação e respeitosa para com o mundo a seu redor.
Carlos Saldanha é diretor do filme Rio.
PATRICIA Lobaccaro
Qual o seu contato com “o verde”?
Em Nova York, durante a semana, se saio do trabalho cedo, costumo correr no Hudson River Park, meu favorito. Nos finais de semana, vamos pra nossa casa de campo, onde cultivamos uma horta orgânica e tenho oportunidade de passar mais tempo em contato com a natureza, junto com meus filhos. Enfeito a minha casa com flores do jardim e adoro os farmer markets.
Muito se fala de sustentabilidade. O que significa esse conceito para você?
A capacidade de permanência a longo prazo. Com relação à sustentabilidade do planeta, refere-se à gestão de recursos naturais a fim de atender às demandas da sociedade de hoje e não comprometer a sobrevivência de futuras gerações. Aí surgem questões específicas de preservação de ecossistemas e da biodiversidade. Os indígenas, por exemplo, têm uma visão holística do planeta que não distingue o ser humano do meio ambiente. Somos todos parte do mesmo sistema. Na prática, significa cuidar do planeta com muito carinho, tendo em vista não apenas o bem-estar imediato mas o impacto que nossas ações terão nas próximas décadas, séculos e milênios. É importante destacar que o conceito e a prática da sustentabilidade estão intimamente ligados ao desenvolvimento humano. Não podemos esperar que aqueles que vivem em intensa pobreza adiem o bem-estar imediato de suas famílias em função de um futuro abstrato. Muitos não têm esse privilégio, essa liberdade.
Nossos pais nos abriram portas com a revolução sexual feita por eles e pelos laboratórios farmacêuticos nos anos 1960. Nos dias de hoje o tema da sustentabilidade está em voga. Você acha que isso será a herança da nossa geração?
Infelizmente, acho que nossa herança não será ainda uma de mudança. Estamos presenciando hoje um aumento de consciência, mas ainda não vejo uma transformação significativa no estilo de vida das pessoas. A sociedade está mais consumista do que nunca, com a facilidade de acesso a produtos pela internet e sites de compras coletivas que fazem as pessoas adquirirem o que não precisam. Podemos dizer que colocamos o assunto firmemente na agenda internacional. Talvez a geração dos meus filhos consiga reverter o ritmo de destruição do meio ambiente e do consumo desenfreado.
Você, que mora em Nova York, qual a principal diferença que percebe no tratamento da responsabilidade verde entre Brasil e Estados Unidos?
Em alguns lugares dos Estados Unidos, como na Califórnia, existem medidas que estimulam práticas sustentáveis. Pistas expressas para carros com pelo menos dois passageiros, estacionamentos com vagas mais baratas para automóveis movidos a energia alternativa, lugares destinados ao estacionamento de bicicletas; movimentos que ainda não vejo em metrópoles no Brasil. A reciclagem do lixo também me parece mais organizada em Nova York do que em São Paulo, por exemplo. Não vejo nos Estado Unidos rios poluídos e degradados, como o Tietê, cortando metrópoles. Por outro lado, grande parte do consumo de energia no Brasil vem de fonte renováveis e, nesse ponto, o país está bem à frente.
Você acredita no sistema de reciclagem de lixo da sua cidade? Recicla seu lixo?
Sim, sempre reciclei o lixo desde que vim morar aqui. Meu prédio é bastante organizado a este respeito: separamos o lixo em três latões, um só para papeis e embalagens de papelão, outro para plástico, vidro e metais, e um terceiro para os resíduos orgânicos.
Além da reciclagem do próprio lixo, o que você considera ações básicas para um cidadão urbano sustentável?
Usar transporte público sempre que possível, caminhar ou andar de bicicleta, consumir alimentos produzidos localmente, reciclar, reaproveitar, evitar desperdício de energia, consumir de forma consciente, tratar com carinho os espaços públicos, respeitar o próximo.
Como é a sua utopia do verde nas grandes cidades para as próximas décadas?
Melhor planejamento urbano, edifícios que reaproveitem a água, utilizem melhor a luz e a ventilação naturais, menos áreas impermeáveis, transporte público eficiente, mais parques, mais feiras com produtos orgânicos e locais, menos restaurantes de fast food, menos poluição sonora e visual, melhor gerenciamento do lixo em nível publico e individual, e legislação que estimule práticas sustentáveis.
Patricia Lobaccaro é C.E.O. da BrazilFoundation.
LUISA Moraes
Qual o seu contato com “o verde”?
O contato com o verde é um dos aspectos principais da minha vida. Os meus pais criaram meus irmãos e eu sempre próximos da natureza. Aproveitar o mar, as cachoeiras e subir em árvores sempre apelaram mais do que brincar dentro de casa. Temos uma casa de praia a duas horas de São Paulo e tento ficar o máximo que posso lá. Não tem telefones, televisão ou internet, então você se reconecta com a natureza e com nossos instintos e vive no presente. Me faz bem ir até lá. Sem ter a natureza ou os animais à minha volta, piraria. Quando estou na cidade, também observo o céu e as fases da lua. Posso encontrar a beleza e a natureza em algumas cidades mesmo quando parece difícil ou quase impossível. É importante saber onde encontrar a simplicidade da natureza, especialmente em uma cidade.
Muito se fala de sustentabilidade. O que significa esse conceito para você?
A sustentabilidade é essencial no meu dia a dia. Tem coisas que tento fazer para conservar os recursos naturais. Tento sempre evitar garrafas e sacos plásticos. Bebo água de torneira filtrada. Reciclo o máximo possível e tento comprar apenas o que realmente preciso. Gosto de comprar móveis e roupas vintage porque acho que se enquadram nessa categoria. Tento usar minha bicicleta quando posso. Desde criança meus pais nos criaram comendo comida orgânica, mas agora que os tempos mudaram e os alimentos são transportados distâncias absurdas, tento sempre comprar produtos locais e apoiar os agricultores da região. Acho isso muito importante, e assim acabamos comendo exatamente o que nosso corpo precisa, porque nossos alimentos e nós estamos crescendo no mesmo ambiente. Meu sonho é um dia viver da minha própria horta. É isso que o conceito de sustentabilidade significa para mim no meu dia a dia, mas, numa visão geral, também tem a energia solar e muitas outras iniciativas e recursos que precisamos buscar juntos.
Nossos pais nos abriram portas com a revolução sexual feita por eles e pelos laboratórios farmacêuticos nos anos 1960. Nos dias de hoje o tema da sustentabilidade está em voga. Você acha que isso será a herança da nossa geração?
Infelizmente, acho isso pouco provável, já que poucas pessoas estão conectadas ou preocupadas com a sustentabilidade ou com uma revolução global consciente. Talvez em alguns anos ou décadas isso mude.
Você, que mora em Nova York, qual a principal diferença que percebe no tratamento da respon-sabilidade verde entre Brasil e Estados Unidos?
Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos temos verde em abundância. A água nos Estados Unidos é muito limpa, bebemos da torneira – no Brasil não podemos fazer isso. De onde venho, em São Paulo, temos um rio muito poluído, enquanto que aqui temos cidades lindas que são preservadas e onde os cidadãos são mais responsáveis em não poluir o meio ambiente. Mesmo assim, os Estados Unidos poluem muito e geram muito lixo. São o país mais consumista.
Você acredita no sistema de reciclagem de lixo da sua cidade? Recicla seu lixo?
Sim, eu gosto de acreditar que o lixo da minha cidade está sendo reciclado de alguma forma. Eu sei que a realidade é outra, e temos um longo caminho a trilhar. Acho que separar o lixo em casa é o mínimo que podemos fazer. Tento não produzir lixo, reciclo e faço compostagem.
Além da reciclagem do próprio lixo, o que você considera ações básicas para um cidadão urbano sustentável?
Outras coisas básicas são simples como economizar água. Fico louca quando vejo uma torneira correndo e ninguém usando. O nosso futuro em termos de água me preocupa muito. A água precisa ser mais valorizada.
Como é a sua utopia do verde nas grandes cidades para as próximas décadas?
Não sei se será possível viver numa cidade daqui a algumas décadas. Gostaria de acreditar que será possível, mas não posso imaginar meus filhos não vendo o horizonte ou tendo contato com a natureza. Com o passo acelerado da tecnologia, o tempo passa cada vez mais rápido, e está ficando cada vez mais difícil parar e curtir os momentos especiais em uma cidade agitada.