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#16RenascimentoCulturaLiteratura

Beleza e verdade

por Thiago Blumenthal

Copo, de Felipe Cohen (2004)

E se Keats estivesse enganado? Essa é a pergunta que me fiz ao debruçar-me recentemente sobre sua obra, um dos maiores poetas românticos de sua geração, em contraponto a ideais estéticos em desacordo com o cientificismo de seu tempo ­— primeira metade do século XIX. O poeta inglês, sabemos, celebra um certo espírito renascentista de registro, de mimesis, da natureza, em seu esplendor e beleza, com o modelo clássico servindo de raiz inspiradora a obras arquitetônicas, plásticas, literárias. E políticas. O idealismo das virtudes gregas capturado pelo projeto de longue durée não passou batido por Keats. Mas me pergunto: e se essa concepção, dentro da visão de mundo europeia, heliocêntrica, não corresponde ao conceito mais formal de verdade?

Em seu poema Ode on a Grecian Urn, Keats concretiza, conceitualmente, a convicção absoluta da “verdade da imaginação” e conclui, nos últimos versos, que “‘Beauty is truth, truth beauty’ – that is all/ Ye know on earth, and all ye need to know”. Da coleção de grandes odes do autor, esta acabou por tornar-se uma das mais célebres e citadas, devida e indevidamente, como é próprio da fortuna de toda e qualquer citação. Tomado pela beleza dos mármores do Partenon, entre centauros e lápitas, o poema, dividido em dois grandes blocos temáticos (de um amante que não pode realizar seu desejo — “Bold lover, never, never, canst thou kiss” —, e de um sacrifício ritualístico, tirado da cena de Sacrifício de Listra, de Rafael, alto período do renascimento), busca responder os possíveis limites da arte. Keats disseca o imaginário renascentista e conclui que só pode haver beleza na verdade, como só pode haver verdade no que é belo.

A corte, a música, o rito religioso, ali descritos e consagrados, em contraposição com a realidade factual da urna que guarda essas narrativas, compõem um cenário espaçado entre dois pontos distintos: a beleza da arte e a humanidade mais real (e “verdadeira”), em contato direto ao apreciar e tocar aquele objeto. Onde se tem que um elemento não somente não exclui o outro, mas serve de condição para que ambos existam. Assim nos conta Keats sob a premissa de que, sim, julgamentos estéticos são os árbitros para qualquer verdade. Como Einstein, um renascentista tardio, que afirmou que as únicas teorias físicas que aceitamos são sempre as mais belas. A equação, no entanto, para fechar, se determina por um outro campo: o tempo e a memória.

Da eternidade das obras renascentistas e do legado do período, por séculos a fio, não duvidamos. Keats, Flaubert, Beethoven, o mot juste em todas as artes e expressões de lá para cá une verdade e beleza em sintagmas indissociáveis. Artistas que trilharam o caminho da exatidão para atingir o belo. O meu ponto é que a doutrina renascentista, que nos foi passada por Rafael, Botticelli, Da Vinci, ultrapassa a mera busca pela verdade. É o caráter mais revelatório de todas essas obras que, muito mais do que um processo preso a um determinismo cego, manifesta uma sensibilidade de escolhas, tangível e essencialmente subjetiva, sem qualquer platonismo que, quando exposto, pode revelar-se às avessas ou fora do escopo artístico.

A verdade não é a beleza, tampouco a beleza está na verdade. A inadequação dos versos finais de Keats, como uma amostragem didática de uma fórmula quase científica, corresponde a uma gradação da natureza que não respeita o aspecto do tempo: com a monotonia da evolução, do primeiro ao último verso, e do leitor de então ao contemporâneo, a beleza se perde da verdade e a obra tende a tornar-se histórica, somente histórica. Um verso se torna um aforismo, uma declaração, uma sociologia aberta ansiando por validação. É belo, e talvez seja verdadeiro. De outro modo: é verdadeiro, e talvez seja belo.

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