Em Imagem e semelhança, Víctor Florido analisa operatórias da imagem em relação ao funcionamento da memória a respeito do verosímil, valendo-se da restituição ao uso comum de um corpus diverso de imagens para levá-los a um novo lugar, no qual, diagrama uma reflexão sobre a função da reminiscência, o estatuto da representação e o real verídico.
Os diferentes trabalhos aqui reunidos estruturam uma narrativa de conteúdo fantasmagórico e claustrofóbico. Configurada a maneira de instalação, na que em cada uma das obras combina diversos gêneros pictóricos, propõe ao olhar um percurso convincente e sinuoso pelas diferentes superfícies das obras e dos assuntos e procedimentos que as conformam. Quartos constituídos como espaços pictóricos que abrigam naturezas mortas, retratos, cenas de evocações históricas. Diferentes mobílias, como painéis, camas e mesas, sobre os quais ficam espalhados livros, molduras, papéis e potes. Representações do entretenimento, do fluxo informacional e do consumo massivo que dialogam com retratos de homens de diferentes idades embasados, cobertos, obliterados.
Este corpus de obras mostra uma narrativa estruturada sobre representações que toma elementos de fotografias que integram o arquivo familiar e um atlas pessoal em permanente formação. Florido não realiza uma transposição exata da imagem fotográfica ao pictórico, outrossim, que com atenção à especificidade linguística própria, opera através dum processo de tradução, edição e seleção com o intuito de oferecer cenas que chamam para um olhar demorado, estudo e descoberta onde os detalhes espelham o carácter artificioso da construção do verosímil.
Logo, se procura mostrar uma construção que propõe uma narrativa convincente, por sua vez, pela sua própria especificidade, fica sublinhado que não se estrutura como a fidelidade certeira dum modelo externo. É o atributo do que possui probabilidade de veracidade, com a pretensão de ser ainda mais exigente que o “real” pela chamada à confiança nos sintagmas que o constituem. Nesse sentido, na sua pesquisa sobre a configuração da imagem, Florido discorre sobre três instâncias móveis, porosas e indissolúveis: o conceito mental, a representação manufaturada e o referente dessa representação. Esse diagrama entre imagem, suporte e referente opera o tempo todo na mostra. Imagem e semelhança faz uso dos elementos linguísticos do dispositivo pintura, para nos mostrar que a memória, essa ficção construída por imagens, ativa-se por, e configura-se em elementos reconhecidos e por sua vez pelo contexto onde surgem, estranhos. As obras aqui reunidas nos apontam que é a partir dos detalhes que elas se potencializam e se conformam em uma sequência verosímil. Muros que se superpõem com paredes, painéis flutuantes, sombras inverossímeis, planos rebatidos, perspectivas confusas… Detalhes confeccionados pela própria linguagem pictórica que deixam a mostra o carácter artificial da memória e refratam sobre a configuração do verosímil.
Los finales de una obra de Vitor Florido
por Victor Florido