#Terra: Especial 10 anosArteArtes Visuais

Matheus Chiaratti e sua terra de referência: Rivane Neuenschwander

por Matheus Chiaratti

(a)casos eróticos [erotic cases] 9, 2014 | Rivane Neuenschwander

Travar a batalha com um trabalho, destrabalhá-lo, correr dele para depois chegar nele; seduzi-lo. Raspar as réstias de luz e invocar as presenças, buscar se proteger corroborando, desenrolar leve o pergaminho. Surrupiar o material para depois amá-lo, conceder e ludibriar. Estou diante da obra que me causa o estupor tremendo; vejo as luzes de cores e o fio abaulado concatenando milagres com outros fios; perduro a palavra na minha boca. Erótico. Engulo a saliva, massageio as paredes internas da bochecha com a língua, ensalivo-me. Um gozaréu imenso se adianta e caminha nas paredes do meu corpo sem força para escapar.

O que é do homem, o bicho não come (Rivane), 2017 – 2018

Travar a batalha com um trabalho. (a)casos eróticos é uma série de bordados de Rivane Neuenschwander que descobri em 2014, quando ainda era assistente de vendas da galeria que representa a artista. Não tinha maneiras de responder a esse atravessamento a não ser produzindo uma obra-licença que não deixa de ser uma homenagem, mas é também – e sobretudo – uma obsessão. Explicitei nele o erótico em falos voadores, trechos de paus e bolas e alguma coisa a mais. Demorou a acontecer; afinal, bordar é uma ação que percorre o tempo a fio, perdura, se prolonga, devaneia. Bordar é também uma penitência, só que deixando rastros.


Originalmente publicado na edição Terra
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