Skip to content
Revista Amarello
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Entrar
  • Newsletter
  • Sair

Busca

  • Loja
  • Assine
  • Encontre
#24PausaArteArtes Visuais

Imagens Desviantes

Horror, de Antonio Sobral

Cada pequeno gesto repete milhões de outros gestos, cada pensamento prova. Prova de admissão em si mesmo. Ele queria chegar à pausa. Imagina o tempo como uma cadência. A sorte. O pulso. A morte.

*

Esquecer os outros, esquecer o mundo, esquecer-se, enfim. Esquecer é um exercício do presente. Não é tão difícil quando o sol esquenta: seu corpo em brasa. E o vento arrefece.

*

Houve um naufrágio dentro de casa. Ele tem 30 anos. Ele se lembra. Mas hoje ele quer pensar em outra coisa. Ou melhor: de outra forma. Ele quer pensar seu pensamento, ele quer pensar o que pensa e não para nunca. Estar fora da ladainha irritante que o assola. Ele quer algo estranho: olhar seus próprios olhos. Saber como seu corpo se mexe. Alheio à própria carne. Ver desprovido de olhos.


Presença

O mar é sedento, às vezes me mete medo. Olho para ele: rajada de luz.
Brincadeira de sol e mar: idas e vindas, pausa, fluxo.

*

Teve o dia – o momento em que desliguei o telefone. Teu pai morreu. Desci do carro e saí. Arrastando-me por entre os rochedos, entrando em grutas para chorar, praia atrás de praia. O céu, o mar e a terra me eram completamente estranhos. Todo o planeta transformava-se em vertigem: imagem. Olhava o céu subitamente descontrolado; as nuvens e o mar em conluio acelerado e hostil.

*

Eu presenciava a transubstanciação da vida. Era necessário deitar na grama para ver o luar pulsando no mato orvalhado: sentir a plenitude, a benção do meu pai.

Tive certeza de que a cidade concreta não só as nascentes de água, mas o tempo como um todo. Foi necessário deixá-la e mudar para o campo. Entender o funcionamento das plantas.

Paisagem


É no mistério que brota o desejo. Ele tem cabelos: cipós

A chuva veio confirmar a vida. Os brotos rebentam. No dia seguinte, todo o visível: mato.

Um boi ancestral rumina a paisagem. Ele está calmo, também ele entende a planície. Tudo respira a calma. A chuva vai e volta.

Eternos ciclos de chuva refletidos no espelho atrás da cama. Estivemos viajando, quiçá ainda estamos. Vivemos contidos em malas. Soltos. A água esconde-se nos grotões.

Um rio corta a paisagem: navalha de luz.

*

Transluz

Os vermelhos viscosos as chagas fumegantes as cidades mornas e ásperas, sou eu o inferno e me vejo cada vez mais dobrado.

As rochas pedem eixo, postura. Fluxo do cocuruto do crânio à unha do pé. Puxa a pedra enorme indo ao centro da Terra. O céu e a água passam. Jorra, atravessa o corpo, atravessa o corpo, atravessa o corpo, jorra, atravessa o corpo, jorra.

Grita e pede expurga! Abre o véu que esconde o peito e transluz.

Jardim de shopping

Andaríamos pela cidade

Atentos a tudo o que nasce
Cada casca um cristal
Cada folha um átomo

*

Esconde o que é construído (arquitetura ruindo lentamente)

*

No shopping, pequenos arbustos, suculentas rodeadas de pedrinhas ocas estranhamente ordenadas: parecem mortas!

Seria o jardim de shopping um álibi à insensatez?

Linhas de plantas iguais
Apenas variedades selecionadas – ó risco de selvageria! Ó plantas daninhas! Como se o mato escancarasse a injustiça social, fosse a desordem um risco à certeza das mercadorias enfileiradas, a própria espontaneidade e o vigor inerente às plantas espontâneas pudessem desencadear as cadeias transnacionais da economia globalizada.

Jardim de shopping: paradoxalmente ponto de máxima vulnerabilidade, expressão demasiado honesta do medo dos outros, de si, da vida, de tudo o que é (sem corante, silicone e trabalho escravo).

Jardim de shopping: vergonha escancarada da arquitetura social, desespero da ordem, ponto final sobre a história da autoridade. Autoridade sem subjugado, delírio lógico do “sim, claro, que chique” à matar as mesmas plantas que de nascença brotam no lugar que é seu.

Como os filhos dos filhos dos negros escravos insistem em fazer filhos, as plantas brotam da raiz de outra planta arrancada.

Amigos, irmãos, amores, andem pela cidade, toquem no tronco das árvores! Vejam os jardins construídos, planejados… vivos!

Compartilhar
  • Twitter
  • Facebook
  • WhatsApp

Conteúdo relacionado


Sonhos não envelhecem

#49 Sonho Cultura

por Luciana Branco Conteúdo exclusivo para assinantes

O teorema de Nino Cais

#44 O que me falta Arte

por Paula Borghi

Seria o mundo sustentável a última das utopias?

Cultura

por Revista Amarello Conteúdo exclusivo para assinantes

Para sempre é para poucos

#7 O que é para sempre? Crônica

por Hermés Galvão Conteúdo exclusivo para assinantes

Procurando Jesus

#17 Fé Arte

por Jonathas de Andrade Conteúdo exclusivo para assinantes

Culpa, essa cretina

#12 Liberdade Cultura

por Valentina Castello Branco Conteúdo exclusivo para assinantes

Em construção

#13 Qual é o seu legado? Arquitetura

por Eduardo Andrade de Carvalho Conteúdo exclusivo para assinantes

Transformações aceleradas

#32 Travessia Crônica

por Vanessa Agricola

Memória e tecnologia: a música indígena contemporânea

#37 Futuros Possíveis Arte

por Renata Tupinambá

O livro das histórias infinitas: O jogo da amarelinha de Julio Cortázar

Literatura

por Revista Amarello

O outro, nossa grande carência

#51 O Homem: Amarello 15 anos Sociedade

por Nicolau da Rocha Cavalcanti Conteúdo exclusivo para assinantes

Exu tocou uma música ontem com um som que só inventou hoje: a música negra enquanto tecnologia criadora de mundos e imaginários

#45 Imaginação Radical Arte

por Rafael de Queiroz

Viagem pitoresca pelo Brasil

#39 Yes, nós somos barrocos Arte
  • Loja
  • Assine
  • Encontre

O Amarello é um coletivo que acredita no poder e na capacidade de transformação individual do ser humano. Um coletivo criativo, uma ferramenta que provoca reflexão através das artes, da beleza, do design, da filosofia e da arquitetura.

  • Facebook
  • Vimeo
  • Instagram
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Amarello Visita

Usamos cookies para oferecer a você a melhor experiência em nosso site.

Você pode saber mais sobre quais cookies estamos usando ou desativá-los em .

Powered by  GDPR Cookie Compliance
Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.

Cookies estritamente necessários

O cookie estritamente necessário deve estar sempre ativado para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.

Se desativar este cookie, não poderemos guardar as suas preferências. Isto significa que sempre que visitar este website terá de ativar ou desativar novamente os cookies.