#35PresenteCulturaSociedade

Uma cesta com coisas da minha horta e a cartilha do MST

por Adelaide Ivánova

O trabalho com a terra marca a história da minha família. Meus avós maternos eram pequeníssimos agricultores familiares, no interior de Pernambuco, e também criavam bode e abelha.

Para mim, ter minha hortinha num espaço urbano serve, antes de mais nada, para auxiliar a sobrevivência das abelhas nativas que, como você deve saber, correm imenso risco, no mundo todo. As flores das fotos, por exemplo, são todas comestíveis (servem para salada, bolo, chá, tudo que você imaginar!), mas eu as uso o mínimo possível, só em ocasiões especiais, para que fiquem disponíveis para as abelhas. Segundo, e igualmente importante, é que construir e participar da horta comunitária do meu quarteirão é uma forma de construir um espaço de convivência coletiva, onde mil possibilidades políticas se abrem – desde politização sobre questões de moradia e direito à cidade, passando pela importância da agroecologia e da soberania alimentar, até a luta antirracista. Terceiro, e aqui entro numa esfera mais pessoal, é uma forma de me conectar com essa ancestralidade sertaneja, o que também ajuda a lidar com a saudade e sensação de solidão.

“A produção do camponês é a produção simples e pessoal em que ele mesmo utiliza sua própria força de trabalho. No processo produtivo da banana, da batata, do feijão, do algodão, do arroz etc., um camponês intervém desde o começo até o final, tal como o artesão que começa e termina o produto sem dividir com outros o processo produtivo.

(Elementos sobre a Teoria da Organização do Campo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, 2015)