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Esse abraço é um lugar de repouso como nenhum outro. Um lugar que hospeda solidão, constrangimento, pequenas conquistas e decepções e luxúria e perdas e esforços ao buscar aquele abraço repetidamente. Um segredo compartilhado entre aquelas duas pessoas, mas você não me faz sentir como um voyeur e eu gosto disso. Estou à vontade com o familiar. Você me dá forma, toque, cores, texturas, um lugar de confiança; sim, você me dá um lugar de confiança que já conheci.
E claro que há o combate que leva a este lugar secreto. Os casais, seus corpos; eles fluem de um para o outro. Confiança. Confiança ao longo dos anos te leva a isso. Uma continuidade. Esses momentos, num relacionamento, são pontos de virada cruciais, meu amor, e você precisa estar alerta, pois é fácil virar as costas para eles; esses momentos não são fáceis, mas eles te dão a força para continuar. Primeiro a crise, depois uma pausa e, depois, depois vem o momento que vocês se reconhecem novamente em silêncio. Este é o abraço. Ah, sim, você capturou mesmo, delicadamente, delicadamente. Nada pessoal a você ou a mim, mas a todos – é pessoal coletivamente. E é limpo, suave e leve, eu gosto disso; e doméstico, tecidos onde fazemos amor e brigamos e fazemos amor e… Não sei como os jovens conseguem hoje em dia, com todo esse compartilhamento do raso.
Intimidade. O combate. Sim. Sessenta anos de combate com um parceiro. Tudo está lá, no abraço.
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Tranças de ressonância
por Ute Klein