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A chama do silêncio: os objetos são o refúgio

Wentz apresente Objects for Silence.

Há uma poesia discreta na dança do fogo, um equilíbrio entre luz e sombra que nos conecta ao essencial. É algo capaz de capturar nossa atenção, convocando-nos ao momento presente. Inspirada por essa força primitiva e contemplativa, a WENTZ apresenta Objects for Silence, uma coleção de acessórios que fornece ao habitar cotidiano rituais de calma e introspecção. A chama, com seu movimento sereno, se torna o epicentro de uma proposta que une forma, funcionalidade e emoção, refletindo o espírito de um luxo silencioso.

Desde sua fundação em 2016, a WENTZ, liderada pelo designer Guilherme Wentz, tem se consolidado como uma marca de design autoral que celebra justamente a serenidade e a simplicidade. Com a nova coleção, essa visão alcança novos patamares, sendo um convite para desacelerar e encontrar, a partir da convivência com objetos cuidadosamente criados, um refúgio para os sentidos. No mundo atual, que parece avesso à frenagem, cada peça acaba sendo uma ode ao silêncio e a tudo que ele quer dizer. Todas constituem um espaço para respirar em meio ao ritmo acelerado tanto da vida urbana quanto da digital. 

E o “como” da história toda é o mais interessante. Afinal, como invocar silêncio em peças de mobiliário? Para dialogar diretamente com a luz e a chama, a coleção apresenta criações que exploram materiais como alumínio e inox em formas minimalistas e geométricas. Porta-incensos, lamparinas, castiçais e luminárias portáteis — cada objeto foi desenhado com a intenção de ressaltar o protagonismo da luz e do fogo, sem competir com sua essência. Essa simplicidade calculada não é apenas estética, ela tem aspectos funcionais. Tal qual a dança serena ritmada pelo crepitar pacífico de uma fogueira, esses objetos evocam toda a fluidez e graciosidade contida no ato de pausar, ainda que a combustão siga acontecendo. É a revolução que acontece num único lugar, aqui e agora.

Guilherme Wentz, não à toa, destaca que o silêncio é uma fonte constante de inspiração, especialmente em meio à agitação da vida urbana, que muitas vezes demanda o resgate de uma vivência mais natural e contemplativa. Para ele, a chama do fogo, com sua calma e difusão, é um elemento que conduz a esse estado de contemplação. É um recurso praticamente terapêutico, uma abordagem de mindfulness aplicada ao design de móveis. Essa visão reflete a profundidade de seu processo criativo, em que os objetos transcendem sua funcionalidade para se tornarem portais de experiências sensoriais.

Além dos novos acessórios, a coleção ressoa com outros itens emblemáticos do catálogo da marca, como a Manta 001, a Vela Volta e o Perfume de Ambiente 001. Juntos, eles constroem um universo em que o design atua como mediador entre corpo e espaço, entre a mente e o agora, transformando ambientes em extensões do cuidado pessoal. É assim que a ideia de silent living ganha materialidade, com um estilo de vida sereno, no qual o verdadeiro valor está nos momentos que cultivamos com intencionalidade.

A expansão internacional da WENTZ, com presença sólida em mercados como Estados Unidos, Itália e Dubai, reforça a relevância do design brasileiro em um cenário global. Contudo, é na intimidade de cada criação que reside a maior parte de sua força. Sem jamais esquecer seu propósito primordial de ser uma coleção funcional que tem muito a adicionar em termos práticos e estéticos à vida de qualquer pessoa, Objects for Silence é um manifesto sobre como o design pode redefinir a relação entre o ser humano e o espaço que habita.

Saiba mais em nossa conversa com Guilherme Wentz:

Como o silêncio se transformou no ponto de partida para a criação de Objects for Silence?

O silêncio é um conceito presente desde o início da marca. Sempre pensamos no morar como esse refúgio silencioso, um escape da vida moderna. Essa coleção surgiu de uma vontade de amplificar essa mensagem através de peças que estimulam determinados rituais que deixam o silêncio ainda mais evidente.

 Qual foi a primeira imagem ou sensação que veio à mente ao pensar em uma coleção inspirada na chama do fogo?

Um final de tarde em uma cabana imersa na natureza, quando começamos a desacelerar e acender o fogo para se preparar para a noite.

A escolha do alumínio e inox é central na nova coleção. Como esses materiais dialogam com o conceito de silêncio e contemplação?

Os metais polidos aqui cumprem a função de refletir a chama do fogo. Esses materiais sempre aparecem como uma solução em nossos projetos porque são materiais precisos e, acima de tudo, silenciosos por não possuírem cor e terem a capacidade de se mimetizar com o ambiente enquanto refletem tudo à sua volta.

Como o contraste entre os objetos e as chamas guiou o desenho das peças?

O processo de design foi reduzir os objetos ao mínimo da forma e deixar a chama do fogo como protagonista. Eu acredito também que as formas geométricas simples são o melhor caminho para uma comunicação universal, já que elas podem ser entendidas por todos, ao mesmo tempo que podem gerar diferentes significados para cada um. Depois de ter os primeiros protótipos prontos, tive a sensação de que se tornaram objetos quase religiosos, embora tenham sido criados a partir de uma intenção completamente mundana.

Que papel a luz e a sombra desempenham no uso das peças da coleção?

A luz é o protagonista da coleção. O que criamos foram apenas suportes para ela. Os objetos só “acontecem” quando acessos. O fogo tem esse poder sobre nós, algo muito primitivo, que nos faz refletir, contemplar. E espaços iluminados pontualmente por velas e lamparinas, também ajudam a criar uma cena íntima e natural, diferente do excesso de luz branca que encontramos pela cidade e nas telas. Também faz parte da coleção uma pequena luminária portátil, que foi nossa tentativa de buscar as mesmas sensações, mas com uso da tecnologia.

Em termos de design, qual foi o maior desafio técnico ao reduzir as formas ao essencial?

Sempre lembro da frase do Brancusi que diz que “a simplicidade é a complexidade resolvida”. A redução é um dos processos mais difíceis tecnicamente porque exigem repensar os materiais, os processos e o desenho. Eu acredito que essa busca rigorosa por soluções que simplificam a forma final da peça é o que faz um bom design. Encontrar os materiais e processos para manter a pureza das formas é a maior parte do nosso trabalho.

A WENTZ, como um todo, busca inspiração na natureza para criar. Como o conceito de habitar natural e urbano se entrelaça em suas criações?

A ideia é se aproximar de um habitat natural, mas se aproveitar das tecnologias disponíveis para fazer isso de uma forma contemporânea. Estamos olhando para o futuro do habitar e não para a nostalgia em um passado rústico. E é nesse design com inspiração natural que podemos encontrar um refúgio para a vida urbana moderna.

Além da nova coleção, quais outros rituais de autocuidado você considera importantes e como o design pode elevá-los?

A casa por si só é uma plataforma de autocuidado. Acho que todos os elementos da casa podem ter um significado: a forma de sentar, iluminar, as obras de arte que estimulam um determinado pensamento, a presença de natureza, e todas as formas de interagir com o espaço. É no silêncio, na solitude e no desacelerar que encontramos as respostas para nossos anseios e, portanto, a melhor forma de autocuidado nos tempos atuais.

O que você espera que as pessoas sintam ao interagir com as peças de Objects for Silence?

Espero que inspire momentos mais lentos e contemplativos e que, mesmo de uma forma muito indireta, consigam se conectar consigo mesmos.

Como você enxerga a evolução do design brasileiro no cenário internacional e o papel da WENTZ nesse movimento?

Esse é um bom momento para mostrarmos o design brasileiro para além dos mestres modernistas. A presença da WENTZ em algumas das maiores lojas/galerias de design do mundo comprova que o Brasil pode ter um desenho relevante para uma audiência global, unidos com inovação tecnológica e qualidade de execução necessárias para estar ao lado das marcas centenárias europeias que sempre dominaram esse mercado. O Brasil pode exportar muito além de commodities.