#11SilêncioCulturaLiteratura

Je vais te dire un secret

por Hermés Galvão

Vou te falar ao pé do ouvido para prestar um pouco de atenção no que eles dizem. Olhos nos olhos e orelhas em pé, mas nada de ficar cabisbaixo ao perceber que falta sentido no que se fala – por mais que se escute bem. Logo cedo você vai entender que não há (e não cabe) compreender. Vou te pedir – e se precisar, repetir – para não desistir deles por isso, mas também não invista: apenas os mantenha à vista. Porque pode ser divertida a conversa quando vão a fundo.

Só não espere que quebrem a cara ao mergulhar no raso de suas intenções, pois todos ao redor flutuam na insuportável leveza de ser o que são por não saberem ser de outro jeito. Não vão notar. Nem anotar. Simplesmente vão esquecer, deixar passar. Ficam as imagens. A memória é visual e, aparentemente, são todos muito inteligentes aos olhos deles, que acreditam por não conseguir sentir. Mas não são pesados por isso, e boiam porque não sabem nadar. E, te digo, nem querem aprender. Para não ir longe demais, percebe? Vivem à beira, contentam-se molhando apenas os pés. A cabeça vive à seca, de onde saem histórias ao vento que eles chamam de movimento. Palavras, apenas.

Mas desejam eles, com a pureza dos estagiários, deixar com elas uma marca, para que no futuro outros voltem atrás e os reverenciem como tais, intelectuais. Seria naïf se não se fosse tão, como dizer, leitmotif. No calor da vernissage e no frio das salas de reunião, galeristas da boca pra fora e publicitários de última hora trazem à tona ideias que, como numa batalha naval de papelaria, cruzam letras e figuras em busca de uma mira certeira. Mas é água o que vem de suas direções. Canhão apontado para o nada, a disparar bombas de efeito moral para alvos fáceis que não resistem a uma prosa pomposa.

Falta assunto para preencher uma existência inteira. Monólogos monotemáticos, cada um por si falando dos outros. Por mais tediosos que possam ser, hoje fico com os monossilábicos – talvez seja puro mistério e não vazio o que pensam em silêncio. Talvez entendam que frases precisam fazer sentido como a vida, que formá-las sem eira não é como jogar conversa fora, mas papo furado. Estou com eles e não abro: sem um pio. Porque perder a chance de ficar calado é o meu novo suicídio moral.